“A revolução só podia começar aqui em Brasília, no coração da Besta!” A frase disparada por Hermano Vianna, ou melhor, pelo ator Leonardo Villas Braga que interpreta o jornalista em Somos Tão Jovens, resume bem a intenção do filme dirigido por Antonio Carlos da Fontoura (Rainha Diaba) e roteirizado por Marcos Bernstein (Central do Brasil). Não só uma cinebiografia centrada na juventude de Renato Russo, o longa-metragem – cuja abordagem assemelha-se ao documentário Rock Brasília: Era de Ouro de 2011 – também é um despretensioso raio-x do rock “candango”, nascido no fim da década de 1970 e início dos 1980 na capital do país.

Naquele período, ainda vivendo sob a ditadura militar, o jovem professor de inglês Renato Manfredini Junior, entediado da vida e inspirado pelo punk rock britânico, sobretudo do Sex Pistols, resolve, junto com os amigos Fê Lemos (Bruno Lemos), Flávio Lemos (Daniel Passi) e o sul-africano Petrus (Sérgio Dalcia), montar a banda Aborto Elétrico. Ainda que não dominassem os instrumentos com competência, o grupo chamou à atenção no cenário musical de Brasília e possibilitou Renato extravasar toda sua genialidade, rebeldia e neurose nos palcos. Foi neste período, marcado por constantes brigas entre eles, que Renato compôs canções célebres que só se tornariam hits anos mais tarde.

Transgressor cultural por excelência, o músico abandona o Aborto – que mais tarde se tornaria o Capital Inicial com a entrada de Dinho Ouro Preto – e parte para uma carreira solo. Daí para o Legião Urbana, foi um pulo. Apesar da música ter um espaço forte no longa, a trama aborda também a vida pessoal do seu protagonista, seu convívio com os pais (Marcos Breda e Sandra Corveloni), protetores e complacentes, e com a amiga de infância Aninha (Laila Zaid). Esta última importantíssima na vida de Renato, confidente com quem ele dividia seus pensamentos, frustrações e segredos, musa inspiradora de uma canção bastante conhecida.

O pouco conhecido Thiago Mendonça, que já havia interpretado o cantor Luciano em 2 Filhos de Francisco, assusta no papel de Renato Russo. Não só por reproduzir fielmente os maneirismos do músico, mas também seu jeito de se expressar, dançar e cantar. Sim, cantar. O ator, cujo timbre é o mesmo de Renato, solta a voz em 90% das músicas da trilha sonora – o som foi captado “ao vivo” no momento das gravações – conferindo mais verossimilhança ao seu trabalho. O comprometimento do restante do elenco também é louvável. Percebe-se que não são performances com muita técnica ou dramaticidade – e até há uma certa forçação de barra -, mas vale o esforço na composição dos personagens. A reconstituição de época bastante cuidadosa também merece aplausos. O final dos 1970 e início dos 1980 é quase respirável diante do esmero da produção, inserindo com sucesso a plateia naquele universo de pouca tecnologia onde os jovens eram menos acomodados.

Somos Tão Jovens é pontuado por marcantes canções da época, entoadas até hoje: “Eduardo e Monica”, “Faroeste Caboclo”, “Geração Coca-Cola” “Ainda É Cedo”, “Que País É esse?”, entre outras. Algo que prende o espectador e faz perdoar facilmente algumas derrapadas do roteiro. Ainda que não “apelasse” para o deleite sonoro, acompanhar a trajetória deste ícone musical e o surgimento de um dos melhores grupos de rock brasileiro de todos os tempos, já valeria o ingresso. Só não espere por tristeza ou morte neste filme. A película se encerra no auge, deixando um gostinho de quero mais.

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(3.5/5)
Somos Tão Jovens
Brasil, 2013 – 104 min.
Direção: Antonio Carlos da Fontoura. | Roteiro: Marcos Bernstein.
Elenco: Thiago Mendonça, Sandra Corveloni, Laila Zaid, Bianca Comparato, Marcos Breda.