Durante as férias na Toscana, uma família dinamarquesa se torna amiga de uma família holandesa. Meses depois, quando chega um convite incentivando a família dinamarquesa a visitar os holandeses em sua casa de campo, eles não pensam duas vezes. A reunião idílica promete surpresas inesquecíveis.

Quais as consequências da polidez absoluta no convívio social? Esta é a pergunta-base da premissa de Speak No Evil, filme dinamarquês, dirigido por Christian Tafdrup. Influenciado por Lars Von Trier e Michal Hanneke, segundo o próprio diretor, a obra  tem como objetivo causar choque, repulsa e entregar uma história perturbadora. A pergunta que não calar é: o filme entrega aquilo que se propõe? A resposta é sim, mas com ressalvas.

A tensão proposta pela direção e pelo roteiro tem como base o arquétipo do comportamento social dos dinamarqueses, supostamente sempre polidos e como muita dificuldade de dizer não; e dos holandeses, mais agressivos e incisivos. Assim, quando os casais se encontram em férias na toscana, estabelece-se uma relação de proximidade, que resulta em um convite para uma visita à Holanda, o qual nosso casal dinamarquês decide aceitar para retribuírem a gentileza e saírem da rotina. Dessa decisão, decorrerem perturbadores desdobramentos.

Nós, brasileiros, da terra do “vamos nos falando”, “vamos tomar um café”, “a gente combina”, provavelmente jamais entenderíamos o convite de forma literal. Se não aceitarmos a diferença cultural, Speak No Evil parecerá um filme totalmente nonsense. O segundo problema está no desenvolvimento do ritmo. Muito embora os eventos escalem ao longo da primeira hora, essa escalada é lenta e progressiva, sentimos desconforto e incômodo, mas não necessariamente medo.

Na virada para o terceiro ato, quando ficam claras as intenções dos anfitriões, finalmente ingressamos na zona do “terror artístico”. Desse ponto em diante, a escalada dos eventos é vertical. Os últimos 30 minutos são perturbadores, dolorosos e sem concessões à moralidade e à empatia. Apesar do desequilíbrio, o pay off vale a pena.

Por fim, um alerta. Speak no Evil não é um filme para quem tem estômago fraco ou é muito sensível a abusos de todo o tipo. Se você não aguenta o tranco de Dançando no Escuro ou Funny Games, fique longePor outro lado, se você gosta desse tipo de narrativa, trata-se de um filme imperdível.

Confira abaixo a critica em vídeo do colaborador Mauricio Costa direto do Festival de Sundance:

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