Afora raras exceções (Shrek e Como Treinar seu Dragão), a DreamWorks Animations nunca teve qualidade e relevância para destronar os ambiciosos e premiados filmes da Pixar, sua principal concorrente. A franquia Madagascar é prova disto: mero divertimento passageiro com meia dúzia de personagens exóticos e engraçadinhos, os filmes anteriores praticamente recontavam a mesma história (o retorno de Alex, Martin, Glória e Melman à selva urbana de Nova York) com ação e humor em doses equilibradas e sem aspirar ser mais do que 90 minutos de entretenimento para a criançada e exigir maior ou menor envolvimento dos adultos. Madagascar 3 – Os Procurados não foge à regra e repete a mesmíssima fórmula dos antecessores, mas acaba surpreendendo. O longa soube encerrar o ciclo iniciado em 2005 de forma cativante e sensível.

Escrito por Eric Darnell e Noah Baumbach, o roteiro desconsidera boa parte dos eventos do episódio anterior, o mais fraco, e acompanha a odisseia dos animais, de onde quer que estejam na África, no retorno à civilização. Para isto, partem no encalço dos pinguins e macacos que escaparam de avião rumo a Monte Carlo, surgindo misteriosamente no cais do principado à nado (e porque não fizeram isto anteriormente para chegar à Grande Maçã é um mistério semelhante a uma girafa mergulhadora). Perseguidos por Chantel DuBois, uma taxidermista obcecada por leões e chefe do controle de animais, Alex e os demais fingem ser artistas e se juntam ao circo Zaragoza, cuja trupe composta pelo tigre Vitaly, a jaguar Gia, o leão marinho Stefano e a ursa Sônia encerra sua própria jornada pessoal.

Previsível na abordagem para conquistar um maior número de fãs, vender mais brinquedos e produzir novos subprodutos, a equipe duplica a quantidade de personagens, acentua a ação desenfreada e substitui muitas soluções inteligentes por comodidades preguiçosa. Por outro lado, entre sequências frenéticas (especialmente a perseguição em Mônaco, que não cede brecha para respirar) a narrativa encontra espaço para apresentar personagens cativantes, bem mais interessantes do que os quatro protagonistas, sobretudo o esperançoso e sonhador Stefano. Já o sucesso da série de televisão dos pinguins e lêmures exige a sua promoção de alívios cômicos pontuais à integrantes de destaque na narrativa, sendo eles responsáveis pelas melhores sequências cômicas.

Apesar dos pesares, a narrativa encerra de forma inesperadamente lógica e inteligente a trilogia – termo que pensei cuidadosamente antes de usá-lo -, e a alucinante perseguição enfim culmina na comovente descoberta dos bichos de onde pertencem, o que envolve a superação do comodismo e das grades que enjaulam e deturpam seus reais desejos e aspirações. Sem afastar a coerência narrativa, há também uma importante mensagem para os pequenos acerca da crueldade praticada contra os animais. Ao fim, independente de estar na selva de concreto, nas savanas africanas ou nas históricas paisagens europeias, desde que seja na companhia destes bichos desajustados pouco importa o destino da viagem.

(4/5)

Madagascar 3 – Os Procurados (Madagascar 3 – Europe’s Most Wanted)
Estados Unidos, 2012 – 93 min.
Direção: Eric Darnell, Tom McGrath e Conrad Vernon. | Roteiro: Noah Baumbach e Erick Darnell.
Elenco: Ben Stiller, Chris Rock, David Schwimmer, Jada Pinkett Smith, Frances McDormand.