Precious

Quem diria que um filme independente produzido pelo execrável Tyler Perry (diretor de dramédias de baixo orçamento direcionadas ao público afro-americano) e estrelado pela chatíssima cantora Mariah Carey (graças a Deus, num papel menor) se tornaria o xodó da crítica e do público norte-americano.

A carreira meteórica do longa começou no Festival de Sundance, no inicio de 2009, no qual levou o Prêmio da Audiência e o Prêmio do Grande Júri. Em setembro, a obra de Lee Daniels foi agraciada como Melhor Filme do 34º Festival de Toronto, no Canadá. Precious teve sessões esgotadas durante o festival graças não somente à boa recepção do filme em Sundance – mas também ao “empurrãozinho” da apresentadora Oprah Winfrey, que esteve no evento para assistir a fita.

Adaptação do livro Push da norte-americana Sapphire, a trama se passa no Harlem, em 1987 e conta a história angustiante de Clareece “Precious” Jones (interpretada pela estreante Gabourey “Gabby” Sidibe), uma adolescente de obesa e grávida pela segunda vez, de seu próprio pai, aos dezesseis anos, que sofre constantes agressões físicas e psicológicas de sua mãe. A escola em que estuda é um caos, e Precious alcançou o nono ano com boas notas e um terrível segredo: ela não sabe ler nem escrever. Com esperança de melhorar a sua vida, e a do seu filho, Clareece entra para uma escola alternativa.

A jornada de livro e filme têm muito em comum. Ramona Lofton, também conhecida pelo pseudônimo Sapphire , é uma poeta e artista performática nascida na Califórnia e integrada na cena novaiorquina desde o final dos anos 1980. Push é seu único livro de ficção, a versão criativa de sua experiência como atendente em um abrigo para mulheres do Harlem, e foi publicado às custas da própria autora, sem grande repercussão. Foi preciso o endosso de uma poderosa agente literária algum tempo depois, para que ele fosse lançado comercialmente, criando um dos maiores frisson literários de 1996.

O longa-metragem também nasceu como um esforço individual – do produtor Lee Daniels (A Última Ceia, O Lenhador) que levantou sozinho o minúsculo orçamento de 10 milhões de dólares para o que viria a ser seu segundo projeto como diretor. Oprah só juntou-se ao projeto mais tarde, tornando-se produtora executiva apenas depois que o filme estava quase pronto.

Precious estreou oficialmente neste final de semana nos EUA, arrecadando U$ 1,9 milhão em apenas 18 salas. Para se ter uma ideia do que estes números representam, a sequência Jogos Mortais 6 arrecadou U$ 2 milhões no mesmo período, estando em exibição em mais de 2.000 cinemas gringos. Faça as contas.

Pelo trailer percebe-se que este é o tipo de drama que agrada os votantes do Oscar. Num ano em que a indústria cinematográfica está completamente focada em filmes-espetáculo e comédias, Precious vem na contramão e pode ter vaga garantida nas principais categorias do Oscar 2010. O longa ainda não tem previsão de estreia no Brasil.