2014 foi um marcado por um equilíbrio interessante entre blockbusters e produções independentes, provocativas e autorais. Enquanto muitos projetos grandiosos naufragaram nas bilheterias, obras menores conseguiram atrair à atenção do público. Este ano, ao contrário dos anteriores, levei em conta não só as estreias nos cinemas, como também as produções lançadas diretamente em home vídeo e/ou serviço de stream. Selecionar estes longas-metragens não foi fácil, mas um trabalho gratificante!

10. Operação Invasão 2 (The Raid – Berandal): Lançado diretamente em home vídeo, esta fita de ação produzido e filmado na Indonésia não só mantém a qualidade de seu antecessor como adiciona novos elementos à trama. Aqui, o tira sobrevivente da invasão ao edifício ocupado pela máfia (visto no longa original), é recrutado para trabalhar como espião num sindicato do crime local no intuito de coletar informações que revelem a corrupção na força policial de sua própria unidade. Durante esta investigação, o público é brindado com as mais impressionantes sequências de artes marciais já vistas no cinema – sem exageros.

9. O Lobo Atrás da Porta: Baseado numa história real ocorrida no Rio de Janeiro na década de 1960, esta obra nacional surpreendente merece destaque não só pelo roteiro dinâmico, mas também por seu elenco afiado, capaz de dar conta de personagens riquíssimos e cheios de ambiguidades. A trama, narrada sobre dois pontos de vista distintos, acompanha o suplício de um pai e uma mãe (Milhem Cortaz e Fabíula Nascimento) cuja filha pequena foi sequestrada em uma creche. A medida que a investigação policial vai se desenrolando, os depoimentos do casal mais a amante do pai da criança (Leandra Leal) revelam uma trama intrincada que envolve traição, violência, sexo e na qual, definitivamente, as aparências enganam.

8. O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel): Inegavelmente, Wes Anderson é um dos cineastas mais geniais em atividade. Nesse belo trabalho que mistura comédia, drama, fantasia e poesia, ele mostra ser mais do que digno de todos os superlativos que lhe são atribuídos. Baseado nas obras do escritor austríaco Stefan Zweig, a trama se desenrola na fictícia ex-República de Zubrowka, que já foi trono de um Império. Neste lugar está localizado o luxuoso hotel do título, onde se desenrolam histórias diversas, protagonizada por personagens cativantes repletos de melancolia, sensibilidade e ingenuidade.

7. O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street): Leonardo DiCaprio em sua quinta parceria com o diretor Martin Scorsese dá um show de interpretação nesta cinebiografia de Jordan Belfort, um ex-corretor da bolsa de valores que montou um esquema fraudulento na década de 1990 e ganhou zilhões de dólares prejudicando terceiros que caiam em sua lábia. Durante sua estratosférica escalada social, Belfort pode experimentar de tudo exageradamente – festas, viagens, drogas, mulheres – até ser preso pelo FBI por sonegação fiscal. Polêmica e atrevida, uma obra magnífica, um dos melhores de Scorsese, cuja carreira sempre girou em torno de homens desonestos e inebriantes.

6. Planeta dos Macacos: O Confronto (Rise of The Planet of Apes): Ambientado dez anos após os eventos do longa anterior, a sequência traz o macaco Cesar como o grande líder de uma sociedade extremamente organizada. Ao permitir que os “inimigos” humanos entrem em seu território para consertar um hidroelétrica, ele dá motivo para que alguns símios questionem sua liderança e ameacem a trégua entre as espécies. Dotado de personagens cativantes e um roteiro interessantíssimo (que discute temas atuais como preconceito e ódio racial), a sci-fi também merece ser reverenciada por usar os efeitos especiais (magistrais) para contar uma história e não para criar um espetáculo espalhafatoso.

5. Garota Exemplar (Gone Girl): Nesta adaptação do best-seller de Gillian Flynn (também autor do roteiro), acompanhamos a vida do escritor Nick Dunne (Ben Affleck) que tem a rotina transformada em um inferno depois que sua mulher (Rosamund Pike) desaparece bem no dia de seu aniversário de casamento. Repleto de reviravoltas, além de um eficiente thriller, o longa é também uma crítica ácida a instituição do casamento. Com uma narrativa pra lá de cínica, o diretor David Fincher também encontra espaço para alfinetar o sensacionalismo da mídia, que, por vezes, transforma investigações de dramas pessoais em (quase) um reality show.

4. O Abutre (Nightcrawler): Crítica voraz a mídia moderna e sem escrúpulos que explora a desgraça humana, O Abutre é um filme que hipnotiza logo nos primeiros minutos, com sua atmosfera sombria e uma narrativa niilista e cruel. Jake Gylenhall interpreta o protagonista, ladrãozinho sociopata que depois de uma série de roubos, descobre sua verdadeira vocação: registrar as sanguinolentas cenas de crimes e acidentes nas ruas de Los Angeles e vender as filmagens para emissoras de TV. Instigante e corajoso, o longa discute a falta de princípios no mundo do jornalismo e da própria essência humana, que explora e consome a tragédia do próximo.

3. 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave): Vencedor do Oscar de Melhor Filme, sem dúvida, um dos relatos mais brutais e realistas sobre uma época repugnante e vergonhosa da História. O roteiro, sem qualquer sentimentalismo exacerbado, é a autobiografia do violinista negro Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), homem livre, que após ser ludibriado por dois criminosos, é sequestrado e vendido como escravo. Nos doze anos do título, o protagonista passa por todo tipo de humilhação e tratamentos desumanos, sem direito de recorrer por sua liberdade. Não é um filme fácil, mas precisa ser assistido para nos lembrar do que o ser humano é capaz de fazer ao seu semelhante.

2. Boyhood: Da Infância à Juventude (Boyhood): Rodado ao longo de 12 anos com um mesmo elenco(!), a história acompanha o garoto Mason (Ellar Coltrane) dos 6 aos 18 anos de idade através de momentos memoráveis (e outros nem tanto) que representam seu amadurecimento (e de todos ao seu redor) ao longo deste período. Tudo é filmado de forma trivial, onde a passagem de tempo é marcada pela tecnologia (computadores, celulares), cultura pop (músicas, referências a filmes), entre outras “sutilezas”. Dirigido por Richard Linklater, cineasta que adora projetos desafiadores, esta pequena obra-prima provoca muitas reflexões sobre a vida e a maneira como a estamos conduzindo.

1. Ela (Her): Delicado e poético, o longa de Spike Jonze fala de amor (e suas consequências) de maneira sui generis, desafiando os limites físicos e da interação social. A premissa se desenrola num futuro próximo, onde a tecnologia está presente em todos os lugares e as relações pessoais foram colocadas de lado. Neste mundo frio, vive Theodore (Joaquim Phoenix, magistral), sujeito solitário que se apaixona por uma inteligência artificial. Primoroso em sua abordagem, Jonze nos faz refletir sobre o caminho que está sendo traçado pela humanidade, cujo anseio de interagir com o mundo de forma absoluta, está tornando-a cada vez mais individualista.