Ahhh… as listinhas de final de ano. Trabalho geralmente díficil, desta vez não tenho direito de reclamar, uma vez que assisti bem menos filmes em 2015. Até o ano passado, o critério era levar em conta os longas-metragens exibidos nos cinemas nacionais de janeiro a dezembro. Desta vez, resolvi ampliar a área de abrangência e considerar também os lançamentos diretos em home video e serviços de streaming. Vamos lá, lembrando pela enésima vez, que esta é uma lista de gosto muito pessoal, não precisa ficar ofendido se o seu filme favorito não apareceu por aqui:

10. Sicário – Terra de Ninguém (Sicario, EUA 2015): O franco-canadense Denis Villeneuve (Incêndios) é um dos poucos diretores estrangeiros que, ao ser “importado” para os EUA, não perdeu o lado autoral nem seu tino cinematográfico mediante as pressões hollywoodianas. Exímio contador de histórias, o cineasta transformou uma história clichê – o combate ao tráfico de drogas na fronteira México/EUA – num suspense poderoso. Drama policial muito bem desenvolvido, Sicário é um filme de ação, sem ação, que sabe dosar magistralmente seus momentos de tensão. A trama acompanha uma policial (Emily Blunt) que é convocada para uma operação especial no México no intuito de desarmar um cartel violento e, durante a missão, descobre que os dois lados da moeda são bem semelhantes.

9. Expresso do Amanhã (Snowpiercer, EUA/França/Coreia do Sul 2013): Baseado na graphic novel francesa Le Transperceneige, Expresso do Amanhã é uma sci-fi poderosa com elenco internacional e dirigida pelo talentoso sul-coreano Joon-ho Bong (Mother – A Busca Pela Verdade). A obra apresenta um futuro distópico onde o aquecimento global tornou o planeta inabitável e o que restou da humanidade está agora confinado em um imenso trem que circunda a Terra sem parar. Separados de acordo as classes sociais – os ricos na frente, os desafortunados nos últimos vagões -, uma rebelião está prestes a abalar esta hierarquia. Além de ser um ótimo entretenimento, o filme também faz com que a gente se questione sobre o futuro da humanidade.

8. Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força (Star Wars VII: The Force Awakens, EUA 2015): O novo filme da saga espacial criada por George Lucas cumpre o que promete: entrega uma aventura emocionante que tanto homenageia a trilogia original quanto estabelece habilmente uma narrativa para as próximas sequências. A nova trama, criada pelo diretor J. J. Abrams em parceria com Lawrence Kasdan, apresenta uma nova (e excelente) protagonista, a engenhosa Rey (Daisy Ridley), que parte numa grande jornada ao lado dos veteranos Han Solo e Chewbacca. O Despertar da Força encanta, diverte e convence, fazendo juz a franquia mais importante da cultura pop.

7. Que Horas Ela Volta? (Brasil 2015): Premiado nos Festivais de Sundance e Berlim, o filme mostra o abismo que separa o mundo dos patrões e o dos empregados, numa sociedade repleta de contradições, preconceitos e injustiças. A trama tem como foco central a vida da empregada doméstica Val (Regina Casé), nordestina que deixou a filha com a irmã e veio tentar a sorte em São Paulo. Após quase 15 anos trabalhando numa mansão no Morumbi, ela tem – e todos ao seu redor – o cotidiano alterado com a chegada da filha adolescente, que vem para prestar vestibular. Crítica contundente à sociedade brasileira contemporânea, o longa funciona graças às atuações brilhantes dos protagonistas e a direção segura de Anna Muylaert (É Proibido Fumar).

6. Divertidamente (Inside Out, EUA 2015): Inteligente, original, sensível, encantador e acima de tudo criativo, Divertidamente é mais um grande triunfo da Disney/Pixar. A animação conta a história da garota Riley, de 11 anos, e das cinco emoções que controlam sua mente: o Medo, a Tristeza, a Alegria, o Nojo e a Raiva, representados por personagens que trabalham dentro de sua cabeça. Cada um desses “operários”, é responsável por uma parcela das ações de Riley ao longo da vida, e esse revezamento no comando das decisões da pequena garota são a grande diversão do filme.

5. Leviatã (Leviathan, Russia 2014): Apesar do seu tema universal – a luta contra o abuso de autoridade -, Leviatã foi interpretado como uma crítica mordaz a Rússia, seu país de origem, levando o Ministério da Cultura a elaborar após o seu lançamento, um projeto de lei proibindo a distribuição de filmes que “denigram e ameacem a união nacional”. A trama acompanha a luta de um homem simples para manter a propriedadade da família, tomada impiedosamente por um político local. O título faz alusão a figura mitológica do Leviatã – o monstro marítimo retratado no livro de Jó – utilizado por Thomas Hobbes para definir o Estado: soberano, absoluto, com poder para tirar os homens de sua natureza selvagem e os forçar a viver em sociedade.

4. Ex-Machina – Instinto Artificial (Ex-Machina, Reino Unido 2015): Ficção científica instigante e simples – visto que não apela para efeitos visuais deslumbrantes -, o filme cativa por conta de seu elenco primoroso e seu roteiro brilhante, que discute, mais uma vez, a relação entre humanos e androídes. O roteiro utiliza como base fundamental, o teste de Turing, que determina o quão convincente é a interação da máquina com o homem. Em uma trama com poucos personagens e um ambiente claustrofóbico, a obra mexe com as percepções não só dos protagonistas, como também do espectador, promovendo várias reviravoltas até o fim.

3. Beast of No Nation (Idem, EUA 2015): Primeiro longa-metragem original da Netflix, o filme acompanha o desenrolar de uma guerra civil em algum país (não citado) da costa oeste africana. No meio deste conflito armado, está o garoto Agu (o estreante Abraham Attah), que após ter sua vila invadida por milicianos, é forçado a se transformar do dia para a noite em um soldado. Através dos olhos da criança, mergulhamos numa realidade cruel e devastadora, onde a perda da inocência, a imbecilidade da guerra, o desejo de vingança a todo custo e outros temas reflexivos são abordados de maneira sutil sem apelar para clichês.

2. Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, EUA 2015): Quem diria que um diretor já com seus 70-e-tantos anos seria responsável por um dos filmes de ação mais empolgantes do século, deixando muito “moleque promissor” no chinelo. O longa marca o retorno do icônico personagem oitentista, interpretado por Mel Gibson em três filmes anteriores, e que agora é vivido por Tom Hardy. No entanto, Max é relegado ao posto de “coadjuvante de luxo”, visto que a história centra-se em Furiosa (Charlize Theron), uma mulher lutando desesperadamente por sua liberdade em mundo apocalíptico dominado por homens. Intenso e vislumbrante do princípio ao fim, repleto de personagens marcantes e frases de efeito idem, Estrada da Fúria é um novo marco para o cinema de ação.

1. Whiplash – Em Busca da Perfeição (Whiplash, EUA 2014): O estudante de música Andrew Neyman (Miles Teller), tem uma grande ambição: se tornar um dos maiores bateristas de Jazz da história. Para isso, ele conta com uma bolsa de estudos numa das mais conceituadas escolas de música do país e um professor escroto que não admite erros, apelando sempre para toda sorte de agressão física, verbal e moral, no intuito de tirar o melhor de Andrew. O longa impressiona não só pela maneira como explora o preço da fama, quanto pela imensa carga emocional das atuações, tanto da “vítima” (Teller) quanto do seu “algoz” (J. K. Simmons, vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante).