Breaking Bad

Quando você liga a televisão e vê imagens desoladoras de deserto em timelapse ou escuta uma trilha sonora que acompanha a fornada de produtos duvidosos, já sabe que está assistindo a Breaking Bad. Série dramática mais aclamada dos últimos anos, o sucesso é facilmente explicado: personagens carismáticos, formato artístico ousado e uma trama que subverte as fórmulas de 99,9% das séries atuais. Mais uma vez  – depois de Os Sopranos – a barreira entre o cinema e a TV foi quebrada para produzir uma história de 62 episódios ou 48 horas de imagens estilizadas e intrigantes como filmes de respeito. Para quem possivelmente nunca ouviu falar, o seriado acompanha a trajetória de um pacato professor de química que se torna rei do crime em Albuquerque, Novo México.

O protagonista é Walter White (Bryan Cranston), que no início da série descobre ter câncer de pulmão, tendo fumado apenas um cigarro na vida. A notícia cai como uma bomba no colo da família de Walt, cuja esposa Skyler (Anna Gunn) e o filho Walter Jr. (RJ Mitte), que sofre de paralisia cerebral, vivem de seu modesto salário como professor em uma escola de ensino médio. Preocupado com seu futuro e disposto a encontrar um sustento para eles após sua morte certa e iminente, Walt se interessa pelo mundo das drogas. Como pequenas peças de um quebra-cabeça, descobre qual é o nicho mais lucrativo – metanfetamina – e sai em busca de um parceiro adequado. Não demora para seu produto ganhar um público consumidor interessadíssimo, fruto de sua genialidade – antes mal aproveitada – no mundo da química.

A série acompanha este caminho para a perdição de uma forma visceral, algo tão real que assusta ou dá náuseas mesmo nos mais fortes de coração. Nunca a situação está suficientemente ruim que não possa piorar. Esta é a máxima da série, que aposta menos em ganchos e mais em narrativa, nervosismo e, claro, empatia: nesse enredo não existem vilões nem mocinhos.

Breaking Bad

Walt e seu fiel escudeiro, Jessie (Aaron Paul), formam uma amálgama tão forte, que parece relação entre pai e filho mesmo num contexto tão “educativo”, como produzir drogas. O jovem, um sujeito que está perdido na vida, cozinhando e consumindo metanfetamina, se junta ao seu antigo professor da época de escola na empreitada em busca de dinheiro “fácil”. A moralidade vai cedendo e os personagens vão se transformando e afundando mais na maldade. Com o passar das temporadas, os dois vão conhecendo grandes traficantes e fazendo seus negócios prosperarem, mas nunca a alegria ou a felicidade. A produção da droga os consome moralmente. Especialmente Walter, que cria um alter-ego – Heisenberg -, e vai se perdendo, até não saber mais se ainda existe aquele pai amoroso e professor talentoso dentro dele.

Em diversos outros momentos, tomamos o ponto de vista de Hank Schrader (Dean Norris), cunhado de White, um policial do DEA, departamento antidrogas, que passa a seguir as pistas do tal Heisenberg e diversas vezes chega bem próximo de descobrir a verdade, arriscando a sua própria vida. Ele também perde sua moral e vai se tornando mais sombrio. A medida que Walt vai ganhando antipatia do espectador, Hank passa a subir no conceito do público, após sofrer sérias consequências dos atos de seu cunhado, que vem arquitetando tudo e controlando a todos. O policial se torna, finalmente, o herói aos nossos olhos.

A apresentação do advogado criminal e criminoso Saul Goodman (Bob Odenkirk) como o cara responsável por livrar a dupla dinâmica das enrascadas, dá um toque cômico muito bem-vindo a narrativa, que trata de assuntos sérios de forma pesada e real. O personagem picareta é tão empático que o canal gringo AMC, exibidor da série nos EUA, está considerando um spin-off (uma série derivada) para Saul.

Eleita pelo Guinness Book como a “série mais bem avaliada da história da TV”, Breaking Bad está chegando ao fim neste domingo (29/09) nos Estados Unidos, depois de muita combustão química, trocentas reviravoltas e sequências de tirar o fôlego. Difícil será para nós, brasileiros, escapar dos spoilers, visto que os últimos episódios do programa só estreiam oficialmente no país a partir de outubro (no canal pago AXN). Prepare-se para se surpreender com o término da jornada desses sujeitos que odiamos amar e amamos odiar.