Estas listas de final de ano são sempre penosas. Primeiro, porque implica em ter assistido a maioria das produções significativas que aportaram em nossos cinemas em 2013, e, segundo, porque irrita uma parcela do público que gostaria de ver seus filmes prediletos aqui representados e não encontram, ou pior, depararam com eles na lista dos piores do ano. Polêmicas e discussões à parte, é sempre bom lembrar que este compêndio é uma opinião pessoal, levando em conta gostos muito particulares que podem ou não corresponder aos dos visitantes deste site.
10. Django Livre (Django Unchained): Em sua obra mais linear até agora, Quentin Tarantino revisita o velho-oeste, gênero pelo qual nutre paixão desde criança. Jamie Foxx vive o personagem título, um escravo libertado por um excêntrico caçador de recompensas (Christoph Waltz, vencedor do Oscar de Ator Coadjuvante), que vai ao inferno, ou melhor, Candieland, uma fazenda que promove lutas ferozes entre escravos, para resgatar sua esposa das mãos do presunçoso Calvin Candie (Leonardo DiCaprio). História de vingança recheada de violência gráfica, personagens riquíssimos e diálogos mordazes, Django Livre traz muitas alusões ao western spaghetti e belas homenagens a um dos gêneros mais velhos do cinema.
[yframe url=’http://www.youtube.com/watch?v=9vO2pd_y6s8′]
9. O Som ao Redor: Premiado em vários festivais, o longa-metragem de Kleber Mendonça Filho é uma engenhosa obra nacional sobre o estudo do comportamento humano. Utilizando o som como um fio condutor da trama, o cineasta expõe o drama social de uma cidade (Recife) que se cerca de paredes, muros e grades. O enredo explora várias histórias paralelas, cada uma com seu significado – tédio, insegurança, insatisfação -, porém, duas delas vão eclodir no final: a estressada relação de uma dona-de-casa com o cão uivador do vizinho e as ações e reações ao serviço prestado pela equipe de segurança liderada por Clodoaldo (Irandhir Santos, excelente) no bairro onde quase todos os imóveis pertence a ‘Seu’ Francisco (W. S. Solha), um irascível proprietário.
[yframe url=’http://www.youtube.com/watch?v=wweuSi_krNs’]
8. Os Suspeitos (Prisoners): No feriado de Ação de Graças duas crianças são sequestradas e um estranho jovem com retardo mental é preso como principal suspeito. A captura parece infundada, mas a medida que o tempo avança e o desespero vai tomando conta das famílias, se o sujeito é culpado ou não, pouco importa para um dos pais (vivido por Hugh Jackman), que resolve bancar o justiceiro e solucionar o caso do seu jeito. Dirigido pelo canadense Denis Villeneuve (Incêndios), Os Suspeitos é um thriller quebra-cabeça onde não se deve desgrudar os olhos da tela para não perder o fio da meada ou deixar escapar algum detalhe. Hipnotizante e claustrofóbico do início ao final, uma obra para gerar questionamentos e reflexões acaloradas.
[yframe url=’http://www.youtube.com/watch?v=f-BHQEAppvE’]
7. Antes da Meia-Noite (Before Midnight): No último(?) capítulo da trilogia iniciada com Antes do Amanhecer (1995) e continuada em Antes do Pôr-do-Sol (2004), o diretor Richard Linklater mantém o o mesmo ritmo delicioso dos antecessores, ainda que o clima da fita seja menos condescendente com a ideia de amor eterno antes promulgada. Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) agora vivem juntos em Paris e, como todo casal, sofrem o desgaste natural do relacionamento. Numa viagem de férias para a Grécia decidem “lavar a roupa suja” e discutir os rumos da relação, que inclui a criação das duas filhas gêmeas, a distância de Jesse do filho adolescente do casamento anterior e as perspectivas de trabalho para cada um. Uma história sensível, madura e emocionante, repleta de diálogos inteligentes e personagens humanos.
[yframe url=’http://www.youtube.com/watch?v=qyjTqmyiCsU’]
6. Frances Ha (Idem): Filme despretensioso que acabou virando cult, Frances Ha é um retrato bem-humorado da nova geração de jovens (sem rumo) do século XXI. Dirigido por Noah Baumbach (A Lula e a Baleia), o longa acompanha a vida sem perspectivas da protagonista (Greta Gerwig), assistente em uma companhia de dança, preterida para o cargo de bailarina, que se vê na “rua da amargura” quando a amiga com quem nutre uma forte amizade e divide o apartamento, decide se mudar. Pequena obra-prima, surpreendente e realista, cuja narrativa verborrágica lembra muito os filmes de Woody Allen em início de carreira.
5. Ferrugem e Osso (De Rouille et D’os): Escrito e dirigido pelo cineasta francês Jacques Audiard (O Profeta), esta co-produção franco-bélgica surpreende na sua maneira de narrar a imprevisível relação entre uma domadora de orcas que perdeu as pernas (Marion Cotillard) e um ex-boxeador sem emprego (Matthias Schoenaerts). Frio e distante, o longa em momento algum explora a deficiência física da mulher para comover a plateia, muito pelo contrário, coloca o espectador em situações desconcertantes, sem mascarar a dor por qual passa a personagem. E, quando ela conhece seu parceiro, o filme incorpora o afeto à trama sem apelar para o sentimentalismo barato. Intenso e realista, uma história de superação bem diferente dos arquétipos de personagens que estamos acostumados.
[yframe url=’http://www.youtube.com/watch?v=yBCH6B1CFZA’]
4. A Caça (Jagten): Filme brilhante escrito pelo diretor Thomas Vinterberg em parceria com Tobias Lindholm, A Caça narra uma história tão metodicamente cruel que é impossível não se sentir afetado por ele. Numa pequena cidade do interior da Dinamarca, o professor de uma creche (Mads Mikkelsen, fantástico) é acusado injustamente de pedofilia, e vê seu mundo desmoronar. Seus companheiros de trabalho, amigos de infância e basicamente todos os habitantes do lugar onde vive lhe julgam culpado, mesmo sem prova cabal, apenas sustentados pelas palavras de uma criança. Reflexão profunda sobre o perigoso comportamento de manada, o longa mostra como o julgamento precipitado, sustentado pela crueldade dos dias atuais, pode ser prejudicial.
[yframe url=’http://www.youtube.com/watch?v=gwxYwb7NbDI’]
3. Azul é a Cor Mais Quente (La Vie d’Adèle): Baseado em uma graphic novel francesa de Julie Maroh, o longa do diretor tunisiano Abdellatif Kechiche (Vênus Negra), é uma belíssima história de amor, amadurecimento e descoberta da sexualidade. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes por direção e, pela primeira vez na história do festival, o de atriz para as duas protagonistas, o filme ganhou manchete no mundo inteiro por apresentar uma tórrida e explícita cena de lesbianismo. Muito mais do que isso, a história da jovem Adele que descobre-se homossexual e cai de amores por Emma, uma lésbica assumida de cabelos azuis que ela conhece a rua, é um épico erótico-intimista, desses cujas imagens, aparentemente simples, hipnotizam o espectador, ficando gravado na memória para sempre.
[yframe url=’http://www.youtube.com/watch?v=3qxWpl-_PQo’]
2. Gravidade (Gravity): Disfarçado de ficção científica, o longa do diretor mexicano Afonso Cuaron é na verdade um estudo de caso sobre a solidão, tendo como pano de fundo o espaço sideral. Na trama, uma missão espacial para consertar o telescópio Hubble dá errado, deixando dois astronautas (George Clooney e Sandra Bullock) presos e totalmente indefesos no espaço tentando alcançar a Estação Internacional para voltar à Terra. A odisseia dramática dos dois é o mote encontrado por Cuaron (também autor do roteiro) para abordar de maneira primorosa a questão do isolamento social. Aventura claustrofóbica e inteligente, um forte candidato ao Oscar 2014.
[yframe url=’http://www.youtube.com/watch?v=kC3rHl_US4Q’]
1. O Ato de Matar (The Act of Killing): Um dos filmes mais assustadores do ano, este documentário cruel co-produzido pela Noruegua e Dinamarca denuncia absurdos e atrocidades cometidas com comunistas na Indonésia durante os anos 1960, promovido por gangsters locais patrocinados pelos militares que assumiram o governo da época. Não satisfeito em apenas entrevistar os assassinos envolvidos com aqueles massacres – lembrados como heróis, por “sufocar com energia” as ofensivas comunistas naquele país -, o diretor americano Joshua Oppenheimer vai além, convidando os criminosos para reencenar as chacinas que, muitas vezes, tinham no cinema sua fonte de inspiração. Uma experiência dolorosa, surrealista e amoral, que incomoda muito mais do que qualquer ficção.
[yframe url=’http://www.youtube.com/watch?v=tQhIRBxbchU’]