A década de 1980 foi um período bastante fértil para a cultura pop, sobretudo nos cinemas, com o surgimento de vários personagens ícones e filmes que se tornariam “clássicos” juvenis. A crise criativa por qual Hollywood vêm passando é notória, entretanto, o culto (às vezes, até excessivo) sob algumas produções daquela época, não justifica esta desenfreada onda atual de refilmagens, produções caça-niqueis que em nada acrescentam à História do cinema. Mais desnecessário ainda se o remake for de uma fitazinha de ação como Amanhecer Violento, que em meados dos anos 80 já era difícil de engolir e agora se tornou completamente intragável.

Realizado em 1984 – período particularmente melindroso conhecido como “Segunda Guerra Fria”, no qual os EUA e a União Soviética celebravam uma “paz armada” -, o filme dirigido por John Milius fazia parte de um âmbito cultural e social bem característico de seu tempo, quando Hollywood, responsável pelo segundo maior item de exportação dos Estados Unidos, funcionava como propaganda do american-way-of-life e tinha a missão de alertar a população para os perigos do comunismo. Neste cenário, uma película ultra-patriótica e maniqueísta que colocava um bando de moleques para lutar contra invasores russos em território norte-americano soava bem absurda, embora justificada por seu contexto histórico.

Saem os soviéticos, entram os norte-coreanos e a trama da refilmagem é praticamente a mesma: Em Spokane, pequena cidade do estado de Washington, dominada por forças inimigas, um grupo de adolescentes aprende combate corporal, manuseio de armas e técnicas de guerrilha com um fuzileiro naval de licença (no original, acredite, o “expert” era o técnico do time de baseball da escola) para resistir e sabotar a ocupação invasora. Chris Hemsworth (Thor) interpreta o líder do grupo, que conta com as presenças de Josh Hutcherson (Jogos Vorazes), Adrianne Palicki (Legião) e Isabel Lucas (Imortais), só para citar os mais relevantes. Lá pelas tantas, Jeffrey Dean Morgan (Watchmen), também dá as caras, no papel de um soldado veterano em combates.

Mesmo se ignorássemos os fatos de que os Estados Unidos têm o maior e mais sofisticado poderio militar do planeta, bem como uma minuciosa política de segurança desde o ataque ao World Trade Center e que a população da Coreia do Norte é menor que a do estado da Califórnia (24 milhões X 38 milhões de habitantes), ainda restam uma série de outros “detalhes” que comprovam o quanto este longa é descartável: patriotismo barato, efeitos visuais pouco convincentes, vilões caricatos, frases de efeito chinfrins, péssimos diálogos, personagens unidimensionais e atuações sofríveis de todo o elenco (nem Hemsworth e Morgan escapam). Com tantos problemas, o cenário descontextualizado e absurdo que afronta a inteligência é a menor preocupação.

Produzido pela MGM, Amanhecer Violento está pronto desde 2009, mas acabou engavetado devido ao processo de falência enfrentado pelo estúdio. O Film District assumiu o longa em 2011 e por questões mercadológicas, decidiu substituir os vilões chineses por norte coreanos na pós-produção – hoje o mercado chinês representa uma grande fatia do faturamento internacional. Outro ano se passou para que diálogos pudem ser mudados, bandeiras pudessem alteradas digitalmente e a história fosse readaptada de maneira que a Coreia do Norte assumisse seu papel vilanesco. Como “todos os asiáticos são iguais”, o estúdio simplesmente desconsiderou a ideia de regravar cenas, numa atitude notoriamente racista. Face a tantos desacertos que pontuam o longa, talvez se a escolha da China como adversário fosse mantida, ao menos minimizasse a trama implausível.

Amanhecer Violento (Red Dawn)
Estados Unidos, 2012 – 93 min.
Direção: Dan Bradley. | Roteiro: Carl Ellsworth e Jeremy Passmore.
Elenco: Chris Hemsworth, Josh Peck, Adrianne Palicki, Josh Hutcherson, Isabel Lucas.