Em 2010, saudosistas do mundo todo deram pulos de alegria quando Sylvester Stallone anunciou Os Mercenários, longa de ação que homenagearia o cinemão brucutu oitentista reunindo a trupe da pancadaria de outrora com alguns recentes astros do gênero. Infelizmente, o resultado ficou bem aquém do esperado, culpa em parte da direção burocrática e enferrujada do astro Sly que, ao acumular funções, jogou água fria na expectativa do público ao entregar um filme apenas mediano. Ainda assim, a fita conseguiu sair-se bem nas bilheterias: tendo custado cerca de U$ 80 milhões, arrecadou US$ 275 milhões mundialmente, garantindo sua continuação.

Eis que surge Os Mercenários 2 e… voilá! Um longa bem divertido, inclusive no que diz respeito a nostalgia. Cenas de ação empolgantes, roteiro mais bem escrito, efeitos especiais convincentes e principalmente, atores que não se levam à sério. Talvez o melhor desta sequência não seja nenhum destes pontos, mas à substituição de Stallone por Simon West (Con Air – A Rota da Fuga) na cadeira de diretor. Acostumado a conduzir cenas de ação, West traz mais dinamismo e eficácia aos inúmeros absurdos que testemunhamos na tela.

Na história, o agente da CIA Church (Bruce Willis) “contrata” a equipe de Barney Ross (Stallone) para resgatar um artefato misterioso que está dentro do cofre de um avião, abatido na Albânia. O grupo encontra o objeto (um dispositivo que tem a localização de uma mina de plutônio abandonada), mas emboscados pelo vilão interpretado por Jean-Claude Van Damme – que, acreditem, atende pelo nome de “Villain” -, entregam o item recuperado. Antes de fugir, o criminoso cai na besteira de matar um dos mercenários. A gota d’água para o grupo clamar por vingança.

Com um roteiro elaborado destes, não é preciso ressaltar que o maior atrativo da película – assim como o primeira – é a presença do seu elenco de peso formado por bombados sessentões e cinquentões. Para as gerações mais novas, batizadas com Matrix e Jason Bourne desenterrar estes astros nem faz muito sentido, mas quem tem mais de 30 anos sabe que a reunião destes sujeitos é um espetáculo sui generis, garantia de adrenalina.

A violência em The Expendables 2 é tão cartunesca que faz o longa parecer uma versão live-action de Comichão e Coçadinha (Itchy e Scratchy), aquele gato e rato protagonistas do desenho animado que Bart e Lisa assistem em Os Simpsons. Cabeças, troncos e membros são decepados das mais diferentes formas – tiros, explosões, combates corporais -, e o sangue jorra de forma abundante. Coisa fina, Jason Voorghees “morreria” de inveja.

Temperam este molho (vermelho) extra picante referências e trocadilhos bem-humorados aos filmes de sucesso protagonizados pelos brucutus no passado. A tchurma se conhece há bastante tempo – Willis, Schwarzenegger e Stallone já foram sócios numa franquia de restaurantes – e parecem estar se divertindo até mais que a plateia. A obra também tira sarro com a idade dos astros e o fato de não estarem mais em forma. “Nós devíamos estar num museu”, concorda o ex-governator a certa altura.

Entretanto, nada supera a entrada (triunfal) em cena do homem transformado em lenda, Chuck Norris. Depois de provocar um estrago danado nas linhas inimigas, o barbudo dá as caras embalado pela musica orquestrada por Ennio Morricone para Três Homens em Conflito, fazendo piadas autorreferenciais com o “Chuck Norris Facts” que invadiu a internet há algum tempo.

Apesar de toda esta farra testosterônica, Os Mercenários 2 apresenta erros gritantes. Se você prestar atenção na cara dos bandidos vai descobrir o mesmo figurante/dublê sendo morto duas, três vezes, o que justifica a absurda contagem de corpos. Outros trechos sem noção – os heróis invadem um aeroporto lotado de civis disparando tiros para todos os lados – mostram que a fita não está preocupada com lógica, continuidade e/ou plausibilidade e seu objetivo é exclusivamente divertir. Sendo assim, é melhor desligar o cérebro antes de entrar na sala de cinema.

(3.5/5)
Os Mercenários 2 (The Expendables 2)
Estados Unidos, 2012. – 103 min.
Direção: Simon West. | Roteiro: Richard Wenk e Sylvester Stallone.
Elenco: Sylvester Stallone, Jason Statham, Dolph Lundgren, Jean-Claude Van Damme, Nan Yu.