“Espetáculos como Prometheus são a razão do cinema existir!” Essa afirmação deveras polêmica parte da avassaladora campanha publicitária viral e da penumbra lançada, nos últimos meses, sobre o real conteúdo da prequel de Alien, um clássico do cinema de terror/ficção-científica e responsável por catapultar a carreira do diretor Ridley Scott. Sobretudo, porém, aquela afirmação é coerente à grandiloquente visão do seu presunçoso cineasta, que força épico goela abaixo a cada projeto, resultando em uma ambiciosa narrativa que, apesar de conceitualmente frágil e tola, não é menos que impactante e provoca e aturde sensações de ansiedade e stress no espectador, imergindo-o por duas horas numa claustrofóbica viagem rumo ao desconhecido.

Motivado pela curiosidade gerada em torno do space jockey, o gigantesco alienígena brevemente visto no clássico de 79, e disposto a responder às perguntas “de onde viemos?”, “qual o nosso propósito” ou “o que acontecer quando morrermos?”, o roteiro de Jon Spaihts e Damon Lindelof (especializado mais em perguntar do que em responder – vide a série Lost) envia a tripulação da nave Prometheus a LV-223 no fulcro de investigar uma pista deixada a milênios nas cavernas de civilizações primitivas. A nave liderada por Meredith (Charlize Theron) parte em uma missão de fins dúbios, apesar dos cientistas Elizabeth (Noomi Rapace) e Charlie (Logan Marshall-Green) ingenuamente julgarem por altruísmo científico um empreendimento de 1 trilhão de dólares patrocinado por Peter Weyland (Guy Pearce, irreconhecivelmente envelhecido, numa maquiagem constrangedora ao estilo de “J. Edgar”).

Arestas aparadas, a inchada tripulação de 17 membros (na Nostromo eram só 7), e que conta ainda com o androide David (Michael Fassbender, excelente), se deparará com uma ameaça inimaginável na busca pelas origens da humanidade. Meticulosamente se embrenhando na franquia alien, a produção homenageia tanto o original de 1979, quanto a versão de James Cameron de 1986, estabelecendo um cenário grandioso nos planos gerais e imponentes estruturas (destaque para o interior da caverna onde vasos contendo um misterioso líquido circundam uma enorme cabeça) sem esquecer de sugerir, e não explicitar, a claustrofobia e o pavor.

Por sua vez, se esteticamente irrepreensível e nostálgico de certa forma, ao abraçar demasiadamente a fria racionalidade, Ridley Scott esquece o determinante em qualquer produção do gênero: o elemento humano. Assim, incapaz de convencer o espectador dos dramas dos arquétipos de personagens que atravessam a tela (há o rebelde, o nerd que não hesita de estabelecer contato com uma forma de vida desconhecida ou o abnegado disposto a se sacrificar em prol dos demais), não é surpresa que seja um robô o personagem mais interessante da narrativa. Existencialista, rancoroso, dono de um senso de humor cínico e uma curiosidade mórbida, David é um ser complexo cujas calculadas reações denunciam alguém ironicamente mais humano do que a patricinha mimada Meredith ou a desinteressante Elizabeth e sua supostamente alusiva dicotomia ciência e fé que resulta só no abstrato duelo de ideologias.

Apesar dessas lacunas em aberto serem espaços acolhedores para espectadores dispostos a discussão saudável, o roteiro é demasiadamente redundante, e porque não recursivo, na resposta de sua pergunta central. Além disso, não há desculpas para a reviravolta final estupidamente desnecessária e o agir incompreensível dos personagens ultrapassando o limite do bom senso e da suposta inteligência que, como cientistas, eles deveriam ter. Ainda assim, mesmo que não cumpra o prometido, ofereça caricaturas ao invés de homens, perguntas e não respostas e dramas tolos e indignos do tema em pauta, o ritmo empregado por Scott é estressante o bastante para prender a atenção do espectador e provar que o britânico não perdeu a habilidade em assombrar e fascinar. Somado a melhor trilha sonora do ano, Prometheus é um espetáculo epopeico espacial: falho como muitos e instigante e hipnotizante como poucos.

(4/5)
Prometheus (Idem)
Estados Unidos, 2012 – 124 min.
Direção: Ridley Scott. | Roteiro: Jon Spaihts e Damon Lindelof.
Elenco: Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, Guy Pearce, Logan Marshall-Green.