Eis uma aposta arriscada: reconvocar os Homens de Preto, quase uma década depois da decepcionante continuação que afundou a franquia e usar um dos orçamentos mais inflados da história do cinema (375 milhões de dólares incluídos os valores de publicidade) para recuperar o charme excêntrico e empolgante do original de 1997. Passaram-se 15 anos deste, e Will Smith e Tommy Lee Jones retornam como os agentes J e K para um público novo e jovem, pouco familiarizado com as aventuras da agência secreta que monitora a atividade extraterrestre na Terra, e mais interessado nas várias adaptações de super-heróis nas telas. Pensando friamente, é um prognóstico desanimador, mas Homens de Preto 3 é um exemplar bem-sucedido da retomada da inventividade e da satisfatória dinâmica dos protagonistas, as qualidades que conquistaram o público há muitos anos.

Escrito por Etan Cohen (não confundir com um dos irmãos Coen), a narrativa tem início com a fuga do asqueroso Boris (Jermaine Clement) de um presídio de segurança máxima na Lua, para se vingar de K (Jones) que, há 40 anos, evitou a invasão alienígena boglodita e o enviou a prisão, arrancando o seu braço no processo. Introduzindo o conceito de viagem no tempo na série, Boris volta ao passado para matar K e alterar o curso da história; mas J (Smith), misteriosamente o único a pressentir as mudanças, retorna a 1969 para salvar o seu parceiro e a Terra, aliando-se à versão jovem de K (Josh Brolin). A contextualização histórica não foi em vão, e nesse ano a humanidade pisou na lua pela primeira vez e o rock conheceu o seu palco mais famoso em Woodstock, permitindo ainda o design de alienígenas retrô inspirados em icônicos seriados como “Perdidos no Espaço” e “Jornada nas Estrelas”.

Apesar do longo hiato, a narrativa mantém intactos os melhores elementos do original, como a postura carrancuda de K e a boa química entre a dupla de agentes. Reproduzindo criativamente um salto no tempo, embora os efeitos especiais deixem a desejar, o filme acerta no casting do interessante Josh Brolin, que reproduz fielmente a entonação da voz texana de Tommy Lee Jones e os maneirismos de sua atuação. Brolin, assim, facilmente rouba para o filme de Will Smith que é eclipsado inclusive pelo archaniano Griffin (Michael Stuhlbarg), um extraterrestre ingenuamente doce e bondoso cuja habilidade de enxergar simultaneamente múltiplas dimensões o transforma no melhor personagem da série.

Com boas gags – uma criança confunde J com um importante personagem mundial -, o longa também diverte ao revelar famosos alienígenas, como os esquisitos Tim Burton e Lady Gaga. No entanto, é impossível ignorar os enormes e grosseiros furos narrativos causados por um roteirista claramente incapaz de lidar com o conceito de viagem no tempo. Sem entregar spoilers, apenas J estar na Agência e se recordar de K revela um paradoxo sem solução, pois este supostamente morreu em 1969 e não poderia tê-lo recrutado. A própria invasão que ocorre nos dias atuais é inexplicável já que os bogloditas o fariam no passado e não no presente, quando a raça estaria extinta. Incapaz de respeitar a cronologia da série, basta remexer as memórias para ver que algumas coisas não fazem mais sentido, a narrativa sequer compreende as inusitadas regras, quebrando-as inocentemente.

A direção de Barry Sonnenfeld é suficientemente ágil para que não pensemos (muito) nos tropeços narrativos. Dosando o humor, ação e drama adequadamente, o cineasta desenvolveu uma aventura descompromissada, que longe da originalidade de outrora, diverte. Porém, é improvável que a aposta dos produtores tenha resultados além do morno, pois Homens de Preto 3 é apenas bom o bastante para “neuralizar” o desastre do episódio anterior e manter uma lembrança agradável de J, K e esta inusitada agência secreta.

(3/5)
Homens de Preto 3 (MIB – Men in Black 3)
Estados Unidos, 2012 – 103 min.
Direção: Barry Sonnenfeld. | Roteiro: Etan Cohen.
Elenco: Will Smith, Tommy Lee Jones, Josh Brolin, Jermaine Clement, Emma Thompson.