Premissas originais encontram-se ameaçadas de extinção na selva cinematográfica norte-americana que, fascinada por exorbitantes cifras, abandona os vestígios da qualidade artística. Nessa linha, Hollywood rende-se ao modismo da sua nova musa, a gigante dos brinquedos Hasbro e dona das lucrativas franquias Transformers e G.I. Joe. Mas, se espremer uma “história” no mínimo aceitável, sobre robôs alienígenas ou uma elite de comandos revelou resultados desanimadoramente trágicos, o que esperar da adaptação do jogo de tabuleiro, cujo único objetivo é o de adivinhar a posição do navio adversário e destruir sua armada?

Fruto de produtores que capitalizariam na adaptação da lista telefônica se pudessem, Battleship – A Batalha dos Mares navega nas águas do clichê, do embaraço e da estupidez, algo que o roteiro dos irmãos Eric e Jon Hoeber sequer se envergonha. Na história, após a descoberta de um planeta nas mesmas condições da Terra para abrigar vida, a NASA estabelece um canal de comunicação espacial que provoca, anos depois, uma invasão alienígena durante jogos navais ocorridos no Havaí. Resumido para tolos no emblemático questionamento do Secretário de Defesa, “está dizendo que nós mandamos um sinal e recebemos uma resposta?”, o fiapo de história é a desculpa para contextualizar a guerra intergaláctica e destruir metrópoles, o que Independence Day já fizera com maior sucesso há mais de 15 anos.

Preenchendo a narrativa com personagens unidimensionais sem pretensões narrativas e dramas menos consistentes que a espuma do oceano, os roteiristas preechen as duas horas de filme com várias ideias estúpidas, incapazes de explicar o porquê dos alienígenas atacarem apenas quando ameaçados e sua misteriosa suscetibilidade à luz solar (o que não faz sentido se pensarmos que eles têm um sol semelhante).

Deliberadamente comparado a Transformers, atestando de imediato a sua falta de inteligência, quem compra ingresso de Battleship está interessado exclusivamente nas sequências de ação. E, embora não tenha o toque esquizofrênico de Michael Bay, o diretor Peter Berg parece mais maravilhado com as set pieces, como os robôs similares a beyblades, e as bandeiras flamulantes dos Estados Unidos, do que com a dimensão do confronto, restringindo-se a cenas burocráticas, mal decupadas e embaladas por uma decepcionante trilha sonora patriótica e metaleira.

Ressuscitando aborrecidas e infundadas discussões, onde defensores insistirão em argumentar que um filme de ação precisa somente divertir (não se engane, este não diverte), ignorando para isto o comprometimento com boa história ou personagens carismáticos e interessantes, Battleship – A Batalha dos Mares ainda tem o gosto acre de ser, simultaneamente, um exemplar da “transformerstização” do cinema de ação e dos filmes baseados em jogos de tabuleiros.

(2/5)
Battleship – A Batalha dos Mares (Battleship)
Estados Unidos, 2012 – 131 min.
Direção: Peter Berg. | Roteiro: Erich Hoeber e Jon Hoeber.
Elenco: Taylor Kitsch, Alexander Skarsgard, Liam Neeson, Rihanna, Brooklyn Decker.