Não vejo a hora de Nicolas Cage quitar sua dívida milionária em impostos e taxas junto à Receita Federal americana. Porque nem Robert Downey Jr. em sua pior fase vítima das drogas, no inicio dos anos 2000, trabalhou em tantos filmes ruins a troco de “dinheiro fácil”. Cage é um grande ator – vide O Senhor das Armas, Adaptação, Despedida em Las Vegas – e merece sorte melhor do que as tranqueiras que vêm estrelando, filmes de qualidade duvidosa como este O Pacto, que merecem empoeirar na última estante das locadoras (enquanto elas existirem).

Aqui, Cage interpreta Will Gerard, um professor de literatura pseudoerudito que, ao lado da sua linda mulher, a musicista Laura (January Jones, numa atuação tão fria quanto a Emma Frost de X-Men Primeira Classe), tem uma vida tranquila, entre orquestras e clubes de xadrez. O cotidiano do casal vira de ponta cabeça quando, certa noite, numa rua deserta de New Orleans, Laura é atacada e estuprada.

Enquanto aguarda na sala de espera do hospital a recuperação da esposa, Will é abordado pelo desconhecido Simon (Guy Pearce), sujeito que diz representar uma organização secreta de justiceiros cujo objetivo é limpar a cidade dos criminosos. Ele diz saber onde o estuprador se esconde e oferece a chance de Will vingar-se, em troca de um pequeno favor no futuro, quando solicitado.

Cage, que esteve em tantos filmes demoníacos – Fúria Sobre Rodas e os dois Motoqueiro Fantasma -, já deveria saber o quanto estes tais “pequenos favores” custam caro. Seis meses depois do ocorrido, em retribuição ao grupo, ele deve fazer justiça eliminando um outro crápula que supostamente cometeu algum crime. Ao recusar-se em colaborar como o “sistema” se vê envolvido numa conspiração onde será preciso utilizar todo o seu know-how de professor colegial: manusear armas de fogo, dirigir automóveis em alta velocidade e descer a porrada em bandidos.

Seeking Justice é um thriller difícil de digerir, repleto de atuações canastronas por parte de todo o elenco. O roteiro escrito por Robert Tannen (desenvolvido a partir de uma história criada em parceria com Todd Hickey), vai deixando pontas soltas a medida que avança, oferece resoluções previsíveis e faz de privada o ouvido do espectador com seus diálogos banais e incompreensíveis – o que diabos quer dizer a senha usada pela organização e repetida à exaustão durante o filme: “O coelho faminto salta”? (Hungry Rabbit Jump). Seria um anacronismo pretensioso para “Humanidade, Razão e Justiça”, frase célebre do filósofo irlandês Edmund Burke?

Apesar de medíocre, O Pacto não é tão pavoroso quanto os recentes Reféns ou Motoqueiro Fantasma 2 – O Espírito da Vingança, filmes que renderam a Cage, ou melhor, Nicholas Kim Coppola, a indicação ao Framboesa de Ouro de Pior Ator do Ano. O astro vai disputar o vexatório troféu cabeça-a-cabeça com Adam Sandler (que já vive de trabalhos sofríveis) e tem chances de levar. Se ganhar, o titio Francis vai suspirar aliviado por não ter o nome da família lembrado em tão vexatória situação.

(1.5/5)
O Pacto (Seeking Justice)
Estados Unidos, 2011 – 105 min.
Direção: Roger Donaldson. | Roteiro: Robert Tannen.
Elenco: Nicolas Cage, January Jones, Guy Pearce, Harold Perrineau, Jennifer Carpenter.