O Artista

Antes de ir ao cinema para assistir a co-produção franco-bélgica O Artista é preciso estar informado e preparado psicologicamente. Caso contrário, o desavisado espectador refém das modernidades pode tomar um susto ao se deparar com um filme preto e branco, sem diálogos, bem aos moldes daqueles que fizeram a fama de Greta Garbo, Charles Chaplin e Buster Keaton.

O roteiro metalinguístico, que começa no ano de 1927, mistura elementos de Nasce uma Estrela (1937) com Cantando na Chuva (1952) para contar a história de George Valentin (o excelente Jean Dujardin, que parece uma amalgáma de Clark Gable e Douglas Fairbanks), superastro do cinema mudo, amado pelos paparazzis e manchete constante nos jornais. Valentin, que além de interpretar, dança e interage com seu simpático cãozinho terrier nos filmes, parece estar vivendo o auge de sua carreira.

No entanto, este é um período de transição em Hollywood, onde os estúdios começam a apostar nos talkies e no cinema sonoro, deixando de lado o cinema mudo. Decidido a não ceder a esta modernidade que afronta seu talento, George abre mão do contrato milionário na Kinograph, estúdio comandado pelo poderoso Al Zimmer (John Goodman). Ao bancar do próprio bolso uma superprodução (muda) que se torna um fracasso de público, ele vai a falência e sua única esperança é a atriz em ascensão Peppy Miller (Bérénice Bejo, esposa do diretor), que ele ajudou em início de carreira.

Indicado a 10 Oscars, The Artist merece ganhar em todas as categorias – digo isto sem ter visto ainda Hugo Cabret de Martin Scorsese – sem excessão. A direção de arte é virtuosa com cenários muito bem feitos, o figurino de Mark Bridges perfeito, a fotografia cheia de contrastes de Guillame Schiffman explêndida e a trilha sonora de Ludovic Bource que permeia o filme inteiro, magistral. Jean Dujardin (Ator) e Bérénice Bejo (Atriz Coadjuvante) se mostram rei e rainha da pantomina enquanto o diretor/roteirista Michel Hazanavicius, profundo pesquisador da era de ouro do cinema, um verdadeiro gênio.

Em tempos de 3D, product placement e outras preocupações financeiras, Hazanavicius está de parabens pela coragem e ousadia. Sua obra-prima brinda o público com uma singela homenagem à sétima arte, provando que, falado ou não, a magia do cinema ainda é a mesma. Belo e cativante, O Artista é uma experiência rara, para ver e rever inúmeras vezes, capturando os detalhes de cada cena. Desfaça de todos os preconceitos e vá assistir ao filme. Você vai se surpreender.

(5/5)
O Artista (The Artist)
França/Bélgica, 2011 – 100 min.
Direção e Roteiro: Michel Hazanavicius.
Elenco: Jean Dujardin, Bérénice Bejo, John Goodman, James Cromwell, Penelope Ann Miller.