A cada novo filme de Nicolas Cage que eu vejo, tenho a sensação que o sujeito assinou seu próprio “atestado de óbito” cinematográfico, mas esqueceram de enterrá-lo. Só mesmo os recentes problemas que o ator vem enfrentando desde 2009 – sonegação de impostos, investimentos imobiliários fracassados, despesas milionárias com brinquedinhos de luxo, desentendimentos com ex-mulheres, prisões por bebedeira e brigas em público com a atual esposa – para entender o rumo que a vida do sujeito tomou.

Nenhum astro tem uma carreira tão “bipolar” quanto ele. Cage consegue alternar bombas homéricas como Fúria Sobre Rodas, O Vidente, Caça às Bruxas e O Aprendiz de Feiticeiro com boas produções como Kick-Ass, Vício Frenético, A Lenda do Tesouro Perdido 2 e O Senhor das Armas (só para citar os mais recentes). Reféns, um desperdício total, infelizmente, pertence ao primeiro time.

Também pudera, o longa é dirigido por Joel Schumacher, o sujeito que um dia já fez bons filmes como O Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas, Um Dia de Fúria e 8 Milímetros (com Cage), mas vai ser sempre lembrado pelas ridículas aventuras do homem-morcego que comandou nos anos 1990, Batman Eternamente (1995) e Batman & Robin (1997). Hoje, o cineasta atira em todos os gêneros e direções, dirigindo obras menores tentando reviver sua carreira.

Na trama, Cage é Kyle Miller, um negociante de jóias preciosas que ao lado de sua esposa Sarah (Nicole Kidman) e sua filha Avery (Liana Liberato) vive em uma confortável e segura mansão com todos os confortos modernos. Os três estão em crise de relacionamento e a situação piora quando larápios conseguem adentrar na residência fazendo-os de reféns.

Os criminosos, que aparentam ser extremamente profissionais, com muitas informações sobre o personagem de Cage, seu trabalho, sua família e os dispositivos de segurança da casa, logo se revelam um bando de amadores desesperados. A medida que o filme avança, segredos e tramas paralelas vão surgindo, numa tentativa frustrada de render um fiapo de história em 90 minutos.

Apesar do passado negro dos principais envolvidos, o roteiro de Karl Gajdusek cheio de furos, sensacionalismo e reviravoltas desnecessárias é o grande problema do longa. Bandidos que fazem famílias de refém é um tema que quando bem explorado, rende thrillers eletrizantes como Sob Domínio do Medo, Quarto do Pânico e o recente espanhol Sequestrados. Não é o caso de Trespass. Graças aos seus protagonistas famosos, o filme brilha feito diamante, mas não passa de bijuteria das mais fajutas.

(1/5)
Reféns (Trespass)
Estados Unidos, 2011 – 91 min.
Direção: Joel Schumacher. | Roteiro: Karl Gajdusek.
Elenco: Nicolas Cage, Nicole Kidman, Liana Liberato, Cam Gigandet e Ben Mendelsohn.