A Origem

Christopher Nolan vem burilando o roteiro de A Origem há dez anos. Talvez por isso, seja fácil vislumbrar neste seu novo e envolvente longa, partes das suas obras anteriores, desde o fascínio com a mente e a ilusão de Amnésia e O Grande Truque até a grandiosidade dedicada às cenas de ação de Batman – O Cavaleiro das Trevas. Além do mais, Inception mantém-se dentro das duas premissas principais dos seus antecessores: Nolan adora fazer filmes sobre anti-heróis, homens desesperados, derrotados pela vida e sobre os momentos que os levam ao extremo.

Na trama, Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um expert em invadir os sonhos das pessoas para roubar segredos do inconsciente que possam ser usados por empresas concorrentes. Um poderoso empresário (Ken Watanabe) propõe à Cobb e sua equipe, justamente o contrário: Ao invés de extrair uma informação, implantar uma ideia na mente de um indivíduo. Neste caso, Robert Fischer (Cillian Murphy), o filho de um magnata às portas da morte. O personagem de Watanabe quer que o herdeiro dissolva o império do pai, evitando assim a hegemonia por parte de uma única corporação.

Nasce aqui a trajetória pelo mais profundo elemento do ser humano: a mente. No subconsciente, nada pode ser ocultado e cada um terá de aprender a controlar as suas memórias, recordações e percepções. A missão é altamente arriscada, cheia de obstáculos dificeis de ultrapassar. Sobretudo quando as realidades se confundem, quando a mente teima em dissolver as fronteiras entre o sonho e o real.

Isaac Newton dizia: “O tempo é uma ilusão”. Criar um filme que altere a linearidade do tempo e do espaço de forma verossímil e que saiba explorar tão bem a dicotomia fina entre a percepção e a realidade, brincando com a ilusão da mente humana e a natureza insidiosa das ideias, é uma tarefa árdua e complicada. Para Nolan, o “mestre” moderno da psique, um passeio no parque.

O sujeito sabe como conduzir suas tramas, sempre extrapolando em suas interligações, subtextos e pequenas surpresas ao longo da narrativa, convincentemente. Aqui, graças ao empenho do elenco extraordinário, o impactante visual – fotografia, direção de arte e os efeitos especiais são os mais impressionantes do cinema desde Matrix – e a poderosa trilha sonora de Hans Zimmer, o diretor concebeu uma obra-prima.

Não bastasse a genialidade do roteiro, Nolan ainda usa códigos “secretos”: Ariadne (Ellen Page), na mitologia grega, é quem segura o novelo que permite Teseu sair do labirinto do Minotauro; a música de Edith Piaf, “Non, Je Ne Regrette Rien” (Não, Eu Não Lamento Nada), tão importante para o desenrolar do enredo, é uma referência a Marion Cotillard, que interpretou a cantora no cinema.

Desde já, A Origem é o melhor filme de 2010 (roubando o posto de Toy Story 3), um forte candidato a filme da década, um dos cults do século XXI e um dos maiores de todos os tempos. Posso parecer exagerado, mas se tivesse que apontar algum defeito em Inception, seria em seu estapafúrdio título nacional. A “inserção”, que é o argumento do thriller, faz muito mais sentido.

(5/5)
A Origem (Inception)
Estados Unidos, 2010 – 148 min.
Direção e Roteiro: Christopher Nolan.
Elenco: Leonardo Di Caprio, Ellen Paige, Marion Coutillard, Joseph Gordon-Levitt, Cillian Murphy.