Fúria de Titãs

O “Fúria de Titãs” original, era uma ficção oitentista “bonitinha mas ordinária” que tornou-se cult graças aos monstrengos criados em stop motion pelo mestre Ray Harryhausen e a presença de grandes nomes do cinema no elenco (Sir Laurence Olivier, Ursula Andrews). Já este Fúria de Titãs não tem nada de bonitinho, mas, em compensação, MUITO de ordinário: trata-se de uma aventura insossa, desnecessária, onde trocentos erros técnicos e atuações vergonhosas provam que nem toda tecnologia gráfica do mundo pode salvar um filme ruim de ser ruim.

A história é simples: os humanos declaram guerra aos deuses, por estarem insatisfeitos com suas vidas na Terra e o Olimpo resolve contra-atacar. Hades (Ralph Fiennes), irmão do todo-poderoso Zeus (Liam Neeson), deixa o seu mundo subterrâneo para dar cabo dos insolentes e ingratos seres humanos. Os deuses exigem que a bela princesa Andrômeda (Alexa Davalos) seja sacrificada ou, caso contrário, a cidade de Argos será destruída pelo monstro gigantesco Kraken. Entra em cena Perseus (Sam Worthington), um semideus em busca de vingança, o único capaz de enfrentá-lo.

Assim como “Cruzada” de Ridley Scott (2005) que não tinha nenhuma cruzada – o filme se passa após o término das manobras cristãs -, Fúria de Titãs também não tem nenhum titã (ausentes também na versão original). Entretanto, uma menção: Kraken teria os dizimado em uma batalha. Nenhuma referência histórica ou mitológica, basicamente um elemento para aumentar o medo da criatura com a qual Perseu não chega a lutar, afinal, apenas a cabeça da Medusa pode derrotá-lo.

Se você não viu o original de 1981 e se empolgou com o trailer, saiba que quase nada no filme funciona. Começando pelo mais óbvio: a conversão para o 3D (feita em apenas 8 semanas quando o ideal são 6 meses) traz personagens e objetos cheios de sombras que incomodam e tiram à atenção; passando pelo roteiro simplório e maniqueísta (que teve quatro versões, envolvendo doze roteiristas diferentes) até chegar a direção insegura e frouxa de Louis Leterrier (“O Incrível Hulk”).

Enquanto a fantasia oitentista apostava numa história de amor, apresentando Perseu como o bom moço e Calibos como vilão (deformado, castigado pelos deuses, dedicado à ruína do herói), a nova versão não define suas barreiras. Worthington bem que se esforça, mas falta carisma e conteúdo ao seu Perseu. Enquanto no original o personagem está disposto a desafiar a ira dos Deuses para evitar que a princesa condenada seja devorada pelo Kraken e os humanos sucumbam, aqui ele não o faz pelo povo, nem por Andrômeda – com quem não tem contato algum – mas apenas para provar que pode. É a essência do “herói moderno” revisitado à exaustão desde o Neo, de Matrix.

O público parece não estar se importando com estes vexaminosos defeitos e a bilheteria mundial do filme deve fechar em US$ 500 milhões(!) arrecadados. Se você faz parte deste grupo que está cagando para a história e quer ver mesmo é a porrada comendo solta, a ida ao cinema até vale a pena. Infelizmente os multiplex da vida ainda não vendem bebida alcoólica. Umas boas doses de whisky transformariam o longa em algo bem mais palatável.

(1.5/5)
Fúria de Titãs (Clash Of The Titans)
Estados Unidos, 2010 – 106 min.
Direção: Louis Leterrier. Roteiro: Travis Beacham, Phil Hay e Matt Manfredi.
Elenco: Sam Worthington, Liam Neeson, Ralph Fiennes, Gemma Arterton, Alexa Davalos.