Avatar

Após assistir Avatar, pude comprovar um antiga teoria minha. O “Exterminador do Futuro” é um filme autobiográfico. Explico: O personagem Kylie Reese é James Cameron. Cameron veio do futuro! Brincadeiras a parte, o visionário diretor confessou que o roteiro de Avatar estava pronto há 14 anos, mas sem a tecnologia necessária disponível, preferiu guardá-lo para o momento certo.

E este momento chegou. Doze anos depois de sacudir o mundo com o seu – até hoje campeão absoluto de bilheteria com um faturamento bruto de quase US$ 2 bilhões – “Titanic”, Jim volta as telas com uma super-produção de 500 milhões de dólares (consumidos entre orçamento de produção, pesquisa e desenvolvimento de tecnologia e marketing), o filme mais caro de todos os tempos, um épico futurista em 3-D passado em outro planeta.

A história tem início numa Terra terminal no ano de 2154. Jake Sully (Sam Worthington, de “O Exterminador do Futuro – A Salvação”) é um ex-fuzileiro que perdeu os movimentos das pernas e quando a oportunidade de trabalhar em exploração de minas no planeta Pandora chega, aceita o desafio. Pandora é um local exuberante e hostil, cujo subsolo abriga uma grande reserva de “Unobtainium”, substância essencial para a sobrevivência terrestre.

Os Na’vi, nativos do planeta, são humanóides azuis carismáticos e pacificos, uma espécie de versão gigante dos Smurfs, cuja tecnologia ainda encontra-se na Idade da Pedra. No entanto, a iminente ameaça dos humanos em relação ao seu território, torna-os hostis e protetores. Para tentar subjulgá-los, os terráqueos desenvolvem a tecnologia dos Avatares, a mistura de um corpo criado em laboratório, combinando DNA humano e DNA Na’vi. O soldado Sully, através do seu Avatar, tem como missão infiltrar-se entre os azulados e descobrir seus pontos fracos. Obviamente, não demora muito para ele ter conflitos morais quanto a sua missão.

O roteiro traça forma pouco pretensiosa e camuflada um paralelo entre a invasão humana predatória em Pandora e a cultura norte-americana de invadir e destruir toda e qualquer país que tenha algo que eles precisem. Aliás, o que parece ser uma tendência das ficções científicas atuais, vide “Distrito 9”, de Neill Blomkamp. Ambos filmes criam analogias entre a realidade e ficção através dos seus argumentos, e ambos identificam o ser humano como principal opressor.

Os diálogos não são o forte de James Cameron, que frenquentou a escola Paulo Coelho de literatura. Volta e meia os personagens soltam frases de efeito que soam como puro clichê. Felizmente, o foco do longa está no deslumbramento visual. Megalomaníaco, Cameron não mediu esforços para mostrar um filme grandioso, de colorido milimetricamente delicioso e que provoca o espectador o tempo todo. Estamos perante uma obra de arte tridimensional, perfeita em todos os sentidos. São 162 minutos quase na sua totalidade criados em animação, que nos transportam fisicamente para o universo magnífico de Pandora.

O crítico Érico Borgo do Omelete escreveu em sua crítica ao filme: “Cameron deixou de ser Rei do Mundo para se tornar Deus de seu próprio planeta.” Realmente é preciso muitíssima imaginação para “parir” algo alucinógeno como Pandora. Há duas semanas fui assistir a “Aconteceu em Woodstock” de Ang Lee e posso garantir que a experiência com Avatar é muito mais lisérgica.

(4.5/5)
Avatar (Avatar)
Estados Unidos, 2009 – 162 min.
Direção e Roteiro: James Cameron.
Elenco: Sam Worthington, Zoe Saldana, Sigourney Weaver, Stephen Lang, Michelle Rodriguez.