Atividade Paranormal Lembro que quando fui assistir “A Bruxa de Blair” nos cinemas, estava ansioso. Sabia que tratava-se de um mockumentary, mas, cinéfilo e videomaker desde a adolescência, a simples ideia de um filme amador de apenas 60 mil dólares, realizado por uma equipe criativa sem a mínima experiência, ter a capacidade de seduzir a imaginação de milhões de pessoas, me fazia delirar. Havia um elemento romântico de rebelião e irreverência nisto tudo que foi por água abaixo quando a sessão terminou. Talvez em 1999, eu ainda não estivesse preparado para este tipo de filme.

Muitos RECs e Borats depois, eis que surge Atividade Paranormal. Desta vez não deixei-me levar pela campanha de marketing boca-a-boca igualmente agressiva a “Blair Witch Project”, preferindo conferir o longa com o grau de expectativa lá embaixo. Que grata surpresa! Ainda que com pequenos defeitos, o horror cumpre o que promete, sem precisar do sangue e das tripas que se tornaram sinônimos do gênero contemporâneo.

O roteiro é simplório: jovem casal é atormentado por assombrações em sua casa e resolve filmar as atividades paranormais durante a noite com uma câmera de vídeo. E não demora muito para captar coisas. Os sustos ficam por conta de alguns detalhes: luzes que acendem e apagam, barulhos de passos, ruídos estranhos, etc. A coisa piora quando o sujeito resolve usar um tabuleiro ouija, mesmo a contragosto da namorada, para entrar em contato com os espíritos.

A novela de bastidores que contribuiu involuntariamente para que Atividade Paranormal se tornasse um fenômeno de bilheteria, é tão interessante quanto o filme. Realizado no início de 2007, usando como locação a própria casa do diretor Oren Peli, a um custo de apenas US$ 11 mil (cada ator recebeu apenas US$ 500), o longa-metragem percorreu um longo caminho antes de ser exibido no circuito comercial.

Peli iniciou sua peregrinação em eventos especializados, depois de ter sua inscrição no Festival Independente de Sundance (criado por Robert Redford nos anos 70, um dos mais importantes dos EUA) cancelada, por ser, supostamente, um trabalho amador. A fita de horror começou então a ser distribuída em DVDs, para amigos do diretor e pessoas que trabalhavam na indústria cinematográfica.

Em 2008, a sorte bateu na porta de Peli e o longa foi parar nas mãos dos executivos da Dreamworks, que imediatamente o enviaram para Steven Spielberg. Pago os US$ 300 mil pelos direitos autorais da obra, o estúdio queria uma refilmagem, mas Spielberg convenceu a todos pelo lançamento da fita original, com um desfecho diferente. Na mesma época, porém, a casa de ideias do Sr. Spielberg foi comprada pela Paramount e o lançamento acabou adiado.

Durante os anos de 2008 e 2009, a internet foi fundamental neste processo. Rumores percorreram sites de cinema do mundo todo, criando uma expectativa pelo filme. Só então a Paramount acordou para o possível hit que tinha em mãos e decidiu adotar uma política de lançamento gradual, expandindo aos poucos o circuito exibidor. Essa política favoreceu o marketing boca-a-boca e transformou o  longa num sucesso, que ultrapassou rapidamente a marca dos US$ 100 milhões. Conto de fadas macabro, portanto.

Se o filme não engana, ele assusta. E muito. As evidentes limitações técnicas reforçam a noção de se estar assistindo a uma experiência verdadeira, e não a uma encenação artificial recriada no computador. Atividade Paranormal vai mexer com os seus sentidos e fazer você pensar duas vezes antes de apagar a luz à noite.

(4/5)
Atividade Paranormal (Paranormal Activity)
Estados Unidos, 2007 – 97 min.
Direção e Roteiro: Oren Peli.
Elenco: Micah Sloat, Katie Featherston, Mark Fredrichs, Amber Armstrong, Ashley Palmer.