Na última Sessão da Meia-Noite do Festival de Sundance 2020, tivemos o filme mais consistente entre os selecionados: Relic, produção britânica dirigida por Natalie Erika James, escrita por ela em parceira com Christian White, e estrelada por Emily Mortimer (A Possessão de Mary).

Na trama, a octogenária Edna desaparece, sem deixar rastros. Por essa razão, sua filha e sua neta retornam à cidadezinha para iniciar e ajudar nas buscas. Edna reaparece de repente, sem lembrar do que lhe aconteceu. Após seu retorno, a avó tem comportamentos estranhos, apresentando sinais do que se pensa ser um estágio avançado de demência, enquanto ela alega existir alguém na casa que a está atacando.

Relic é um terror psicológico de ambientação, como A Bruxa e Ao Cair da Noite, o que já o torna divisivo para os fãs do gênero. Não há jump scares; o susto, quando acontece, decorre de uma imagem perturbadora, de algo que aparece, silenciosamente, no fundo da tela ou atrás de um personagem (lembram de O Babadook?), ou da própria expressão das atrizes, com destaque para Robin Nevin, no papal da avó Edna.

O filme constrói a tensão em fogo baixo, do primeiro minuto até o terceiro ato, com bom uso da trilha sonora e da cinematografia sombria. Sentimos o crescimento da tensão até a virada para o terceiro ato, quando imergimos em uma jornada angustiante e assustadora, até o desfecho ambíguo, mas não aberto. Assim, a obra tem êxito naquilo que Amulet – produção também do Reino Unido – fracassou.

Felizmente para alguns, infelizmente para outros, o filme não faz exposições baratas, nem procura dar explicações exatas para o que se está passando naquela casa. O espectador tem as mesmas dúvidas e a mesma experiência dos personagens e pode encontrar explicações alegóricas e literais para o que acabou de presenciar. Assim, a diretora não subestima o público e proporciona a ele uma experiência angustiante e assustadora que o faz pensar, e muito, após sair da sala de cinema.

Embora não tenha sequências de tirar o sono, como The Night House, tem um tom mais consistente do início a fim. Embora a trama seja, em tese, mais simples, uma vez que seguimos a linha cronológica dos acontecimentos, Relic acaba por ser mais sofisticado. Um dos grandes filmes de terror de 2020.

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