Na última exibição dos filmes da sessão de meia noite, tive o privilégio de assistir The Hole in the Ground, longa-metragem de terror dirigido e co-escrito por Lee Cronin e estrelado por Seána Kerslake e pelo sinistro ator infantil James Quinn Markey, que encarna a criança mais assustadora desde Damien, em A Profecia. Na trama, Sarah, tentando fugir de seu passado problemático, constrói uma nova vida em uma casa no bosque com seu filho Chris. Um encontro aterrorizante com uma vizinha misteriosa coloca Sarah em um espiral de paranoia, enquanto tenta descobrir se as mudanças perturbadoras na personalidade de seu filho estão ligadas a um buraco nas profundezas do bosque próximo a sua casa.

Lee Cronin não dá alívio ao espectador por nenhum um minuto. Da primeira à última cena, o longa tem um clima sombrio estabelecido pela fotografia – tanto nas cores quanto nos enquadramentos -, pela trilha sonora e pela personalidade dos personagens centrais, sempre acompanhados por uma metafórica nuvem negra sobre suas cabeças. Na crescente de tensão, quem rouba a cena é o jovem James Quinn Markey, que compõe o aterrorizante Chris com toda a ambiguidade necessária para manter, pelo tempo necessário, os espectadores com a mesma dúvida de Sarah: Chris foi ou não substituído? Ele é mesmo seu filho? Ela está tendo alucinações?

Se o filme de Lee Cronin não tem muito a oferecer em termos de originalidade na premissa, tem todos os méritos na execução. O resultado é mais do que eficiente, porque se trata de um filme que se equilibra na tênue linha que separa o suspense e o terror, e o faz com maestria. Ao mesmo tempo em que não se baseia na utilização de jump scares e que aposte no peso da atmosfera de suspense e terror, o espectador que prefere os filmes de terror tradicionais pode ficar tranquilo: The Hole in the Ground dá as respostas que o público tanto espera, ainda que levante algumas perguntas que servem para aumentar a nossa paranoia e para que a levemos para casa.

Ao terminar a sessão, tive a mesma impressão que Sob a Sombra, de Babak Anvari, me causou em 2016, também no Festival de Sundance: surge um grande diretor de terror, que merece ter seu trabalho acompanhado de perto. The Hole in teg Ground será, sem dúvida, um dos melhores filmes de terror de 2019, juntamente com The Lodge. E será difícil decidir qual é o melhor.

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