Na primeira sessão de meia-noite do Festival de Sundance 2019, The Lodge, dirigido pelos austríacos Severin Fiala e Veronika Franz, provou que o primeiro trabalho da dupla, o excelente e perturbador Boa Noite, Mamãe, não foi um golpe de sorte. No novo filme, os diretores demonstram terem total domínio da narrativa de suspense e terror, além, é claro, de uma visão de mundo bastante perturbada.

Ao apresentar o filme, o representante do festival afirmou que estava empolgado com a ideia de plantar um pesadelo na mente de cada um dos presentes. Felizmente, ele não estava brincando. Se, em 2018, Hereditário apavorou as plateias de Sundance, em 2019, esse papel caberá, sem nenhuma dúvida, a The Lodge.

Embora The Lodge tenha algumas coincidências com Boa Noite, Mamãe – como duas crianças perturbadas por um evento trágico e o isolamento em uma casa -, as abordagens divergem, especialmente no terceiro ato. Se em Boa Noite, Mamãe, temos a construção do suspense psicológico, que se transforma em violência física e puro Gore, em The Lodge, a violência física, embora exista, é residual, e a narrativa se desenvolve com base no terror psicológico e na crescente perturbação que toma conta daqueles personagens, com consequências irreversíveis.

Para além da história poderosa, os atores e atrizes, especialmente a protagonista Riley Keough, fazem um trabalho excepcional. A fotografia do grego Thimios Bakatakis explora o contraste da luz natural nas cenas externas na neve com a semi-escuridão dos ambientes fechados, além de se utilizar de enquadramentos que colocam o espectador na posição de voyeur em diversos momentos.

Se este texto não entra em maiores detalhes sobre a trama, não foi por mero esquecimento. Para potencializar a experiência de The Lodge, quanto menos se souber sobre a história, melhor. As reações da plateia, que nada sabia sobre o filme, durante a sessão foram as mais variadas, de gritos a suspiros abafados, de grudar na cadeira a quase saltar do lugar. Esteja apenas preparado para “causar danos irreversíveis em sua alma”, porque se trata de um filme profundamente perturbador.

Por fim, cabe lembrar que The Lodge não agradará a todos os públicos. O filme tem ritmo compassado (que alguns chamariam de lento), se baseia muito na atmosfera e na ambientação, sem apelar para sustos baratos telegrafados pela trilha sonora. Se você não gostou de Boa Noite, Mamãe, A Bruxa ou Hereditário, provavelmente não vai gostar de The Lodge. Porém, se você gostou desses filmes, The Lodge é um filme obrigatório.

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