Uma garota perdida em uma ilha deserta após um naufrágio. Uma criatura feroz, forte e misteriosa que devora qualquer ser vivo que dê bobeira. Um monstro sempre à espreita no mar. Use a premissa básica de Náufrago, adicione um pouco de Predador e uma pitada de Tubarão, misture bem e reduza o orçamento. Esta é a receita de Sweetheart, suspense de ação dirigido por J.D. Dillard e estrelado por Kiersey Clemons.

Pela descrição, poderíamos deduzir que Sweethart é um filme trash, baseado na miscelânea de clichês repetitivos propostos pelo roteiro, mas, graças ao talento e a criatividade de J. D Dillard e a impressionante atuação de Kiersey Clemons, o longa rende um bom caldo, ainda que não alcance o nível de um filme excelente.

Na primeira hora, conhecemos a protagonista, um pequeno trecho da ilha e a criatura, que nunca aparece claramente, mas sempre se insinua pelas sombras e pela escuridão – sua primeira aparição de corpo inteiro resulta na melhor imagem de todo o filme. Praticamente sem nenhum diálogo, a obra poderia ter descambado para a chatice sem limite, porém, consegue segurar nossa atenção com muita expressividade, fisicalidade e até timing cômico. A tensão é construída com eficiência, muito mais baseada na insinuação de Tubarão do que na obviedade de Godzilla.

Na transição do segundo para o terceiro ato, Dillard incorre no maior erro de sua obra: mostrar a criatura por inteiro. Não se trata de um design risível ou ridículo do monstro, mas também não se trata de nada original, que realmente valesse à pena mostrar. Apenas para efeito de comparação, há uma cena de perseguição na beira da praia, à noite, quando vemos somente a água se movimentando, que é muito mais tensa e eficiente do que a sequência que se propõe a expor a face da criatura para o público.

O grande mérito de Sweethart é a despretensão. O filma entrega aquilo que se propõe, dentro dos limites daquilo que poderia alcançar. Não há interpretações profundas, do tipo “o monstro é a representação do seu inimigo interior”. De significado, fica o protagonismo de uma mulher negra bad ass, em um filme de ação – o que não é pouca coisa. Este é um grande de exemplo de como se fazer muito com pouco, ao contrário de superproduções que sobram recursos e entregam quase nada, como Venon e o novo Predador. Para os fãs de suspense de ação, Sweetheart é um filme que merece atenção.

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