Roar

Durante uma viagem à África, na década de 1970, Tippi Hedren (atriz de Os Pássaros) e seu marido Noel Marshall (produtor de O Exorcista), os pais de Melanie Griffith, passaram por uma casa abandonada que havia sido tomada por felinos e, decidiram fazer um filme sobre eles. A ideia era conscientizar o mundo sobre o perigo da extinção e o tratamento deplorável em cativeiro de leões, tigres e diversas outras feras selvagens.

Originalmente, eles queriam simplesmente “alugar” animais treinados de Hollywood, mas foram alertaram para o fato de leões serem animais extremamente territoriais que recusam conviver se não tiverem crescido juntos. O casal então, começou a adotar e criar felinos – entre leões, tigres, pumas e guepardos, além de outros animais, como elefantes, flamingos, avestruzes e girafas – que cresceram, durante seis anos, no interior de uma mansão luxuosa em Beverly Hills. Quando a “coleção” atingiu os 150 animais, a produção do filme fixou-se num rancho dos arredores de Los Angeles e assim começou um dos empreendimentos cinematográficos mais perigosos da História.

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Ao longo de cinco penosos anos de filmagem – o plano original previa apenas seis meses -, aconteceram mais de 70 acidentes documentados e quase fatais entre o elenco e a equipa técnica. Marshall foi atacado diversas vezes e sofreu ferimentos que levaram anos para curar; o diretor de fotografia, Jan de Bont (Velocidade Máxima), foi literalmente escalpelado por um tigre e teve de receber 220 pontos na cabeça; Hedren teve uma perna quebrada e ficou ferida gravemente na cabeça, enquanto sua filha Melanie, foi atingida no rosto pelas garras de um leão e precisou passar por uma cirurgia de reconstrução facial após ficar com cicatrizes decorrentes dos mais de 100 pontos que levou.

A produção também enfrentou inundações, incêndios, doenças que mataram animais e a desistência da maioria dos financiadores do projeto, que consumiu 17 milhões de dólares – boa parte do orçamento foi gasto no trato e treinamento dos animais. Comandado pelo próprio Marshall – sua única experiência como diretor, ator e roteirista – o longa chegou aos cinemas somente em 1981, tornando-se um grande fracasso, em cartaz por apenas duas semanas e arrecadando míseros 2 milhões de dólares.

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Em uma ação de marketing próxima a época do lançamento, Marshall convidou alguns fotógrafos, entre eles Michael Rougier, da revista Life, para registrar cenas do dia-a-dia da permanência dos felinos entre sua família. A impressionante sessão de fotos – que mostra o casal tratando o leão Neil como um mero bichano, domesticado e feliz – não foi o suficiente para salvar o filme do fracasso. A solução encontrada pelo o estúdio na ocasião foi apelar: “Nenhum animal foi ferido durante as filmagens; 70 membros do elenco e equipe foram”.

Na trama, um especialista em vida selvagem que mora há anos sozinho numa área de preservação animal nas planícies africanas, passa a ter sérios problemas com os bichos depois que sua mulher e dois filhos mudam-se para o lugar, no intuito de todos viverem juntos. Acontece que, com a chegada de novos humanos, os leões da reserva entram em um conflito voraz para determinar o líder do bando – algo que ameaça a vida da família recém-chegada. Assista ao trailer:

Descoberto por James Shapiro, chefe de operações da Drafthouse Films, responsável por relançar filmes que estão, segundo ele, “perdidos no tempo e maduros para a redescoberta”, Roar foi relançado em abril nos cinemas norte-americanos e chega este mês (remasterizado) em DVD e Blu-ray.