Em uma época em que todo o material publicitário de um filme é dissecado pelos fãs por meio de análise de trailers e cenas, e interpretação de fotos e pôsteres; Vingadores: Era de Ultron foi um dos longas mais teorizados nos últimos meses, em parte por causa da enorme quantidade de material disponibilizado pela Marvel e em parte pela imensa expectativa que causou no seu público. E deve ser um alívio para esses fãs que o novo trabalho do cineasta Joss Whedon lhes entregue o que eles queriam ver… ainda que não traga nada mais além disso.

A trama tem início com a equipe de super-heróis numa tentativa de recuperar o cetro de Loki, em posse do Barão Strucker (Thomas Kretschmann), que o utilizou para realizar experimentos nos irmãos Pietro (Aaron Taylor-Johnson) e Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen). Finalizada a tarefa, Tony Stark (Robert Downey Jr.) resolve usar a tecnologia do cetro para criar Ultron, uma inteligência artificial super desenvolvida capaz de proteger a Terra de qualquer e ameaça. A experiência, porém, não sai como planejada, e Ultron, agora em posse de um corpo metálico e da voz de James Spader, inicia um plano maligno de dominação (e possível destruição) global, começando, é claro, pela aniquilação dos Vingadores.

A ideia de um vilão querendo destruir o mundo não é original, assim como o conceito de pessoas (ou seres) diferentes que precisam se unir para salvá-lo. Porém, o princípio da franquia Os Vingadores não é (e nunca foi) a originalidade, mas sim trabalhar de maneira coesa e divertida a interação dos personagens já estabelecidos no universo cinematográfico da Editora. E isso, o filme faz muito bem. Tal interação já é vista desde o início da projeção, em um belo plano-sequência que mostra os heróis trabalhando em conjunto. Além disso, o longa se destaca pelo desenvolvimento do personagem-título. Articulado, inteligente e extremamente convicto das suas opiniões, Ultron, em meio a toda a sua racionalidade, ainda demonstra resquícios de emoção e até um pouco de sarcasmo, características que o tornam mais “humano” – e muito mais fascinante.

O restante dos personagens também merece menção. Enquanto Downey Jr. mantém o humor ácido de Tony Stark, Chris Evans volta a personificar o conceito do “bom moço” com o Capitão América. Até mesmo heróis secundários como a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro também ganham mais importância, com direito a flashbacks, interesses amorosos e detalhes sobre as suas intimidades (e o carisma de Jeremy Renner é melhor aproveitado). Quem sai perdendo é Chris Hemsworth, já que seu Thor é extremamente mal aproveitado, tornando-se apenas um coadjuvante de luxo. Pior ainda é a participação desnecessária do Dr. Erik Selvig (Stellan Skarsgård), que surge para “ajudar” o Thor a localizar um poço mágico (que o próprio Selvig não sabia onde ficava) e auxiliá-lo a adentrar no “mundo dos sonhos”, algo que o deus do trovão acaba fazendo sozinho.

Aliás, os equívocos narrativos da escrita de Whedon, vistos também no capítulo anterior, ficam mais claros em Era de Ultron, ainda mais quando se percebe que o roteiro subestima a inteligência do espectador, concebendo situações incoerentes em detrimento da ação. Em determinada sequência é mencionado que o vilão foi até a nação africana de Wakanda (lar do Pantera Negra) em busca de vibranium, o “metal mais resistente do planeta”, para colocar nas armaduras dos seus soldados. Essa informação, porém, parece ser esquecida no resto do filme, uma vez que os robôs de Ultron mostram-se bastante frágeis, sendo destruídos por tiros e flechas. E vale lembrar que vibranium é o mesmo material do qual é feito o escudo do Capitão América, e este já resistiu a uma martelada do Thor.

Momentos como esses, porém, não chegam a atrapalhar a apreciação do longa, uma vez que ele consegue entreter ao seu público da forma esperada: com ação e alguns toques de humor. E por mais que a ação às vezes se mostre um pouco confusa, com a montagem dificultando a localização espacial do espectador nas cenas de luta, a grandiosidade das mesmas funcionam ao seu propósito inicial (e único) de entreter. O embate entre o Homem de Ferro e o Hulk, por exemplo, era algo bastante aguardado pelos fãs, e de fato ele não decepciona. Da mesma maneira, são plantadas sementes do que deve vir a ser desenvolvido na Marvel no futuro, com a apresentação de novos personagens e as discórdias entre o Capitão América e o Homem de Ferro ganhando cada vez mais importância.

Ao final, Vingadores: Era de Ultron não é o melhor filme da Marvel (meu preferido continua sendo Guardiões da Galáxia), mas é uma aventura acima da média, com personagens carismáticos e um clima leve e divertido. Ou seja, é exatamente aquilo que se esperava dele.

Vingadores: Era de Ultron (Avengers: Age of Ultron)
Estados Unidos, 2015 – 141 min.
Direção e Roteiro: Josh Whedon.
Elenco: Robert Downey Jr., Chris Evans, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Mark Rufallo, Jeremy Renner.

AVALIAÇÃO
História e Roteiro:
Nivel de Interpretação
Qualidade Técnica
Direção:
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Daniel Medeiros é graduado em Cinema e Vídeo e formado nos cursos de Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica; e Jornalismo Cinematográfico - Crítica, Reportagem e Coberturas de Festivais. É membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) e pesquisador sobre cinema de terror.