Depois do inexplicável sucesso da franquia Anjos da Noite, os produtores parecem ter procurado outra mitologia fantástica para deturpar em prol de lucro fácil, e o resultado dessa busca surge com Frankenstein – Entre Anjos e Demônios, filme que não apenas desrespeita o personagem criado pela escritora Mary Shelley, como ainda falha na sua maior (senão única) função: entreter o seu público.

A trama acompanha o monstro Frankenstein – cujo nome é Adam, por algum motivo – que depois de matar a esposa do seu criador e ser responsável pela morte dele, é procurado por um grupo de demônios que precisa dele para algum plano sinistro. Na ocasião, a criatura é salva pelos vigilantes Gárgulas (aquelas estátuas de pedra que ficam no alto dos prédios), responsáveis por manter a paz na Terra. Depois de 200 anos de reclusão, Frankenstein decide que é hora de parar de se esconder, e passa a caçar os demônios que até então estavam no seu encalço. Sem perceber, acaba se metendo no meio de uma guerra que pode causar o fim da humanidade.

Tirando o estranhamento inicial causado pelo fato de estarmos vendo Frankenstein sair no braço com demônios e sendo protegido pela “ordem gárgula”, o roteiro de Kevin Grevioux (roteirista de Anjos da Noite) e Stuart Beattie (Guerreiros do Amanhã) – este último que também dirige o filme –, tenta inserir algumas discussões interessantes, como o impacto que o experimento de Victor Frankenstein teria numa sociedade essencialmente religiosa, uma vez que ficaria comprovado que Deus não é o único capaz de dar vida a um ser humano. Além disso, como diretor, Beattie cria uma concepção visual interessante, em que cada morte de um demônio vem acompanhada de um rastro de fogo.

O problema é que, contando com uma montagem extremamente equivocada, que, frenética demais, falha ao não situar o espectador durante as sequências de ação, principalmente naquelas que envolvem vários personagens, o longa ainda exibe escolhas narrativas no mínimo bizarras (como o timer que avisa que um corpo está 0% reanimado). Mais do que isso, o roteiro é extremamente previsível, não guardando nenhum tipo de surpresa para o público, e apresenta alguns furos imperdoáveis – afinal, se um demônio só pode possuir um ser humano sem alma, e não consegue possuir os corpos dos mortos (eliminando todas as possibilidades de possessão, com exceção da criatura-título), como surgiram todos aqueles demônios engravatados que vemos durante toda a projeção?

Mas talvez o grande defeito do filme resida na concepção das suas criaturas. Se os gárgulas surgem como grandes demônios alados – o que não combina com o caráter angelical que eles assumem aqui –, o pior mesmo é a risível maquiagem dos demônios, cujo visual mais parece uma máscara de borracha feita para o Halloween (algo auxiliado pelo fato deles continuarem usando terno e gravata depois da sua transformação). Finalizando, o Frankenstein, que é o herói do filme, aparece aqui apenas com algumas cicatrizes, e com o rosto (e o corpo) de Aaron Eckhart, aparentemente ignorando o fato de que esse “monstro” foi concebido a partir de pedaços de pessoas mortas.

O resultado, como era de se esperar, não difere muito do visto em todos os Anjos da Noite – e a presença do ator Bill Nighy, novamente como o vilão, serve como outro motivo de comparação. Frankenstein – Entre Anjos e Demônios é outro caça-níquel que tenta se estabelecer como franquia a partir de uma história originalmente boa, mas que é desperdiçada em função de um divertimento que, definitivamente, também não acontece.

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(1/5)
Frankenstein – Entre Anjos e Demônios (I, Frankenstein)
Estados Unidos, 2014 – 93 min.
Direção: Stuart Beattie. | Roteiro: Kevin Grevioux e Stuart Beattie.
Elenco: Aaron Eckhart, Bill Nighy, Miranda Otto, Jai Courtney e Yvonne Strahovski.