Hitchcock pode até ser considerado uma cinebiografia, mas a sua abordagem vai muito além desta qualificação. Da mesma forma que Lincoln de Steven Spielberg não é um filme de vida e morte do famoso estadista norte-americano, e sim o retrato de uma fase crucial – a abolição dos escravos – por qual passou o 16º presidente dos EUA, este thriller bem humorado dirigido por Sacha Gervasi (roteirista de O Terminal, com Tom Hanks) segue a mesma linha, fazendo observações e inserindo alguns elementos fantasiosos num dos períodos mais importantes da carreira do diretor Alfred Hitchcock: a concepção e realização do clássico Psicose. Adaptação do best-seller “Alfred Hitchcock and The Making of Psycho”, de Stephen Rebello, o longa também oferece um vislumbre da vida íntima do diretor britânico com sua esposa e parceira, Alma Reville.

Anthony Hopkins debaixo de uma maquiagem assustadora e reproduzindo trejeitos do diretor, vive Hitch em sua fase mais crítica, assombrado por programas televisivos de pouco sucesso – o Alfred Hitchcock Apresenta – e sentindo a necessidade urgente de encontrar um projeto arrojado, que traga novamente o hype para seu nome em Hollywood. Após ler “Psycho”, livro de Robert Block inspirado na vida do serial-killer Ed Gein, decide levar a macabra história aos cinemas, mesmo contra a vontade da esposa Alma (Helen Mirren), que está tentando convencê-lo a adaptar um romance escrito pelo amigo Whitfield Cook (Danny Huston).

A partir daí, tem início a via crucis do cineasta: Uma vez que os grandes estúdios, receosos quanto a temática da obra, lhe negam financiamento, ele é obrigado a hipotecar sua casa para bancar a película do próprio bolso; a MPAA – órgão regulador da censura nos EUA – encrencou com a cenas de nudez, violência e outros conteúdos sexuais, ameaçando a exibição do longa; e, como se não bastasse, Hitch ainda se viu no meio de uma intensa crise matrimonial com Alma, tendo que enfrentar suas inseguranças para concluir seu controverso trabalho.

O filme traça um perfil sarcástico do conceituado diretor, retratando-o ora como um menino mimado cheio de taras – o voyeurismo e sua obsessão por atrizes loiras são as mais notórias -, ora como um homem ególatra e autossuficiente. Alicerçado pela ótima atuação de todo o elenco, sobretudo do brilhante Hopkins, Gervasi consegue prestar uma decente homenagem ao mestre do suspense, embora desperdice um tempo precioso dramatizando o desnecessário. As cenas em que Hitchcock tem visões com o psicótico Ed Gein (Michael Wincott) e os mexericos quanto a sua relação com Alma – sugerindo puladinhas de cerca de ambos os lados – são totalmente descartáveis.

Restrito por questões de direitos autorais – nenhum trecho de Psicose pôde ser mostrado nem recriado – o roteirista John J. McLaugh

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