A barreira entre Cinema e Televisão está desaparecendo. Esta linha tênue já foi um distanciamento enorme no passado e ainda o é quando se trata de produções como Two and A Half Men, Big Bang Theory, entre outros. Mas quando a linha é drama, ou qualquer coisa que o valha, temos visto uma enorme evolução na última década. Em especial séries da HBO e AMC – canais americanos de TV.

Séries como Breaking Bad, Dexter, Sopranos, Mad Men, Game Of Thrones e The Walking Dead integram uma lista de produções da telinha com qualidade suficiente para comparar com a telona. Qualidade em se tratando de diversos aspectos como uma atuação mais realista, trilhas com personalidade, enredos complexos e a narrativas, de modo geral muito cinematográficas.

The Walking Dead, agora em sua terceira temporada, muito me impressionou, ainda que estejamos acompanhando o crescimento das séries dramáticas na TV. Por que? Porque jamais poderíamos imaginar que haveria história para contar numa série baseada na monótona sanguinolência, mortes violentas e reviravoltas bruscas. Era de se imaginar, na verdade, que uma história boa não poderia se sustentar por muito tempo com tantos zumbis a solta – trauma da franquia Resident Evil que se estragou a partir do segundo – ledo engano.

Os personagens são extremamente reais dentro de um contexto que todos nós nerds já nos imaginamos alguma vez, num mundo apocalíptico com Zumbis. Quem de vocês leitores não sabe que para matar um zumbi se deve delicadamente trucidar o cérebro desses monstros?

Pois é. Para quem ainda não conhece, a história começa no ponto de vista de Rick, policial bonzinho que se perde da família no meio da catástrofe e, como se já não tivesse que lidar com um monte de coisa, ele ainda tem que arrancar a cabeça de um zumbi aqui, destruir um outro ali, matar mais outros acolá ele ainda tem que pensar que sua família ainda vive, ser um bom marido e pai. Lame, right? No.

Depois do belo reencontro da família, Rick se junta e lidera um grupo de sobreviventes tão nômades quanto seus inimigos para encontrar um safe haven, ou um lugar seguro no meio de tanta miséria. Esta busca incessante vai se tornando cada vez mais utópica, o que transforma toda a gama de personagens que começam a mostrar seus lados sombrios.

Walking Dead fez, na segunda temporada, que acreditássemos numa melhora da condição de vida dos protagonistas envolvidos, numa continuidade da raça humana ainda que em condições de dificuldade extrema. Só que não. A construção do lugar seguro durante toda a temporada só foi um preparativo para a grande perda que iríamos sofrer. A bucólica fazenda foi tomada por uma onda zumbi levando consigo personagens com os quais nos havíamos afeiçoado e dividido o grupo ainda mais. O protagonista Rick mostra finalmente a que veio: desmanchando aquela imagem de bom moço para mostrar um lado sombrio da liderança lançando a icônica frase “this isn’t a democracy anymore“(“isto não é mais uma democracia“) em tom ameaçador.

A terceira temporada é sobre a incessante busca de um lugar seguro onde se possa plantar, colher e viver em paz. A princípio encontram uma prisão e fazem dela ironicamente seu lar. Nesta temporada também é apresentado um novo grupo, um vilarejo pacato e um líder, o Governador, extremamente empático e até mesmo simpático, para depois mostrar também um lado ainda mais sombrio que o de Rick, sugerindo um embate futuro entre os dois grupos onde a coisa vai ser ainda mais feia do que já está.

O programa não é meramente sobre zumbis, mas sim sobre a humanidade em condições extremas. Ou ainda o que resta da humanidade em nós e mais importante: por quanto tempo. Fazendo com que nos questionemos se não faríamos parecido se estivéssemos na mesma. A própria noção maniqueísta posta no início do “policial bonzinho” vai se perdendo e a série vai se tornando assustadoramente real. Se você gosta de aventura, mas tem medo de pular de pára-quedas, ou do sofá para o chão, mas não se preocupa se seu vizinho é um devorador de cérebros, assista.

Todas as terças às 22h no Canal Fox
Reprise aos sábados no mesmo horário