“Filme baseado em quadrinhos” já virou gênero em Hollywood. Combinação de aventura, fantasia, drama e às vezes até comédia, há cada ano aumenta mais o número de adaptações de gibis para o cinema. Entretanto, estas empreitadas nem sempre dão certo. A compilação abaixo foi elaborada levando em conta não apenas os bons resultados dos longas listados, mas a fidelidade dos seus roteiros para com o material original:

13. Hellboy (Idem, EUA 2004): Ninguém nunca imaginou que um super-herói pudesse ser um monstrengo vermelho, mal-educado, com chifres e aspecto demoníaco. Quer dizer, Mike Mignola imaginou. E a transposição para as telas desta sua criação “heroicamente incorreta” é bem fiel aos quadrinhos, graças a direção firme de Guilhermo Del Toro (O Labirinto do Fauno) que soube explorar seus personagens intensamente, deixando-os mais humanos. Alguns exageros não chegam a prejudicar a história do demônio evocado por nazistas no final da Segunda Guerra Mundial que é criado por um cientista norte-americano e, transformado depois de adulto, num combatente das forças sobrenaturais que ameaçam o planeta.

12. Blade – O Caçador de Vampiros (Blade, EUA 1998): Poucos sabem, mas Blade é um personagem da Marvel criado por Marv Wolfman e Gene Colan em 1973. Wesley Snipes encarna a versão de celuloide, transformado em um híbrido de vampiro e humano, após ser contaminado na barriga da mãe, quando ela foi mordida por uma criatura das trevas. Como resultado, herdou as habilidades extraordinárias dos sanguessugas sem as limitações comuns aos demais vampiros: pode andar à luz do sol e não tem aversão a alho e crucifixos. Não chega a ser genial, mas é fiel as (poucas) HQs publicadas na década de 1980 e diverte com seu visual sombrio, boas sequências de ação e frases de efeito ditas na hora certa.

11. Dredd (Dredd, EUA/Inglaterra/India, 2012): Pouco conhecido do grande público, Dredd é um homem-da-lei de um futuro distópico que acumula os cargos de juiz, juri e executor. Criado por John Wagner e Carlos Ezquerra, o personagem fez sua estreia em 1977, na revista britânica 2000 AD. Esqueça a adaptação tosca de 1995 estrelada por Stallone, esta aqui é a versão “definitiva” do Juiz Dredd. Dirigido por Pete Travis, o longa é um show bizarro de violência gratuita, resultando em sangue para todos os lados, pedaços de pessoas e pilhas de cadáveres, exatamente como nas HQs.

10. Homem de Ferro (Iron Man, 2008): O Homem de Ferro é uma armadura hi-tech criada pelo playboy, gênio e bilionário Tony Stark para combater criminosos acima da lei. O personagem foi escolhido para ser o “primogênito” da Marvel Studios: o primeiro filme produzido, realizado e distribuído pela empresa. A adaptação para a telona amarra as primeiras histórias publicadas na década de 1960 – período em que foi criado por Stan Lee – com sucessos editoriais da década de 1980 quando o herói foi repaginado por Dennis O’Neil e Jim Starlin. A escolha do elenco é outro ponto positivo, complementados pelos efeitos visuais e a direção segura de Jon Favreau.

9. X-Men 2 (X-Men 2, EUA 2003). O primeiro filme veio ao mundo num período em que adaptações de HQs estavam desacreditadas. Com orçamento reduzido, o diretor Bryan Singer inteligentemente preferiu focalizar mais o desenvolvimento dos personagens em detrimento das cenas de ação. Ao contrário do original, X-Men 2 é bem sucedido em todos os quesitos. Inspirado no gibi “O Conflito de Uma Raça”, o segundo episódio coloca mutantes inimigos lado a lado contra um cientista militar que deseja eliminar todos eles. Aproximando fantasia da realidade, Singer soube equilibrar de forma competente ação, dramaticidade e boas atuações.

8. Superman – O Filme (Superman, EUA/Inglaterra 1978): 35 anos depois de sua concepção, a obra soa datada, mas continua sendo a melhor versão para o cinema do maior ícone dos quadrinhos – esperamos que Superman: O Homem de Aço que estreia em 2013, mude isso. Tudo isso graças ao versátil diretor Richard Donner que inventou aqui a fórmula de sucesso para filmes de super-heróis: atores de credibilidade, efeitos visuais surpreendentes, fidelidade as HQs, e roteiro misturando comédia, romance e ação em doses iguais.

7. Kick-Ass – Quebrando Tudo (Kick-Ass, EUA/Inglaterra, 2010): Escrito por Mark Millar e ilustrado por John Romita Jr., Kick-Ass – codinome do adolescente franzino Dave Lizewski que sem preparo físico nem treinamento marcial decide se tornar um vigilante mascarado – é uma espécie de Watchmen da era da internet com pretensões mais “realistas”. A adaptação comandada pelo britânico Matthew Vaughn reflete fielmente o universo do personagem – publicado pela primeira vez em 2008 – com seu tom cartunesco, despretensioso e politicamente incorreto onde sobram homenagens as HQs e a cultura pop em geral.

6. Homem-Aranha 2 (Spiderman 2, EUA 2004): O primeiro filme da trilogia tem seus méritos, mas foi nesta sequência que Sam Raimi entregou a mais fiel adaptação do personagem para às telas. Inspirado na história “Homem Aranha Nunca Mais” (publicada na revista “The Amazing Spider-Man 50”), o longa traz Peter vivendo o momento mais conturbado de sua vida e ainda tendo que lidar com o perigoso vilão Dr. Octopus – cujo visual é muuuito melhor que o fraco design do Duende Verde no original. Aqui tudo funciona graças ao roteiro primoroso elaborado a oito mãos por Alfred Gough, Miles Millar, Michael Chabon e Alvin Sargent – todos habitués com o universo das HQs.

5. Watchmen (Watchmen, EUA 2009): A adaptação da obra de Alan Moore foi recebida com euforia pelos fãs da graphic novel, embora o público em geral tenha achado o longa “frio” e o próprio Moore declarado que a fita soava “como minhocas regurgitadas”. Polêmicas à parte, a história ambientada numa realidade alternativa dos anos 1980 onde heróis mascarados existem, já foram sancionados pelo governo e agora estão proibidos, é genial. O mesmo pode ser dito da sua transposição para a telona comandada por Zack Snyder (“300”), fidelíssima ao material original.

4. Os Vingadores (The Avengers, EUA 2012): Leal as HQs do grupo – criado por Stan Lee e Jack Kirby -, sobretudo as histórias publicadas na década de 1960 (anos 1970 e 80, no Brasil), a adaptação cinematográfica comandada por Joss Whedon é um sonho de fã realizado. Apesar de seguir a fórmula tradicional dos blockbusters – orçamento folgado, astros famosos, cenários grandiosos, efeitos visuais em profusão – é um entretenimento de primeira que empolga também quem não está familiarizado com estes seres fantásticos oriundos dos gibis. O bom resultado é fruto de um roteiro bem estruturado, atores talentosos e um diretor nerd que entende do riscado como poucos.

1. Trilogia Batman (Batman Trilogy, 2005, 2008, 2012): Visto que arcos iniciados em Batman Begins concluem (brilhantemente) em O Cavaleiro das Trevas Ressurge, achei melhor não dissociar os filmes. Tim Burton tratou com respeito o vigilante de Gotham City em Batman (1989) e Batman – O Retorno (1991),mas foi Christopher Nolan quem melhor soube transpor para às telas o universo sombrio do homem-morcego ao costurar revistas clássicas do personagem – desde a época da “Detetive Comics” até os anos 1990 – com graphic novels antológicas – “O Cavaleiro das Trevas” de Frank Miller e “A Piada Mortal” de Alan Moore.