Schadenfreude. Esta é a palavra alemã que define o sentimento sinistro de prazer (intenso ou sutil, a depender do indivíduo) que pode se manifestar em qualquer um de nós diante da desgraça alheia. O cinema já viveu uma época onde o Schadenfreude não era problema e produções que apresentavam atos ou personagens moralmente discutíveis (seja para defender uma ideia ou apenas fazer graça) eram possíveis. Atualmente, estas obras estão em extinção e, quando surgem, são alvos de muitas campanhas difamatórias.

A lista “transgressora” abaixo traz os melhores filmes que extrapolam os limites (se é que eles existem) do politicamente incorreto. Sei que muitos apressadinhos vão ignorar esta pequena introdução e partir direto para os comentários citando uma série de fitas de horror gore com esta ou aquela cena. Dito isto, saibam que exclui propositadamente os longas deste gênero, principalmente aqueles que já foram lembrados nas nossas queridas e perturbadoras compilações de cinema extremo.

10. Quem Vai Ficar com Mary? (There’s Something About Mary, EUA 1998): Divertido, cruel, sem-vergonha e politicamente incorreto até a tampa, a história desta comédia dirigida pelos Irmãos Farelly (“Debi e Lóide”) é totalmente recheada de situações absurdas e um tanto constrangedoras. Tudo gira em torno da personagem-título Mary (Cameron Diaz, surpreendente no papel), que deixa todos ao seu redor fascinados, capazes das maiores loucuras para conquistar seu amor. Sobram gags visuais com deficientes físicos e mentais, idosos, animais, órgãos sexuais e fluídos corporais. A famosa “cena do gel” marcou toda uma geração.

9. Ano 2000 – Corrida da Morte (Death Race 2000, EUA 1975): A corrida do título é uma competição transcontinental onde o vencedor é aquele que, além de chegar em primeiro, tenha atropelado o maior número de pedestres em seu caminho – lembrando que crianças e idosos valem mais. Ficção científica de ácida crítica social que funciona por não se levar à sério. Os atropelamentos espetaculares não são poucos e mesmo com os precários efeitos especiais da época são sadicamente empolgantes. Esqueça o remake bobão de 2008 que nada tem a ver com este cult setentista estrelado por David Carradine e Sylvester Stallone.

8. Team América – Detonando o Mundo (Team America, EUA 2004): Team America é um grupo de marionetes (no estilo tosco do sessentista “Thunderbirds”) que se auto-denomina a “policia do mundo”, disposta a proteger o planeta a todo custo, nem que para isso seja preciso dizimar e explodir tudo ao seu redor. Palavrões, violência exagerada e ofensas em profusão compõe a trama que inclui uma bizarra cena de sexo explícito com bonecos. Animação dos mesmos criadores de “South Park” que joga lama no imperialismo norte-americano e sua campanha difamatória contra os árabes.

7. Perdita Durango (Idem, EUA / México / Espanha, 1997): O diretor espanhol Alex de La Iglesia (“O Dia da Besta”) tem um humor bem peculiar, então, não é de se estranhar que ele consiga contar uma história de amor em meio a rituais de magia negra, sequestro, estupro e violência desmedida. A personagem título (Rosie Perez) é uma mulher sensual, forte e perigosa, envolvida com o sacerdote (Javier Bardem) de um culto macabro que sacrifica pessoas para plateia seletas e contrabandeia fetos humanos para a indústria cosmética.

6. Problemas Femininos (Female Trouble, EUA 1974): Sequência alegremente vulgar e totalmente subversiva de “Pink Flamingos” novamente estrelada por Divine (o travesti-musa do diretor John Waters), aqui interpretando uma adolescente rebelde dos anos 1960 que dá uma surra nos pais e foge de casa porque não ganhou seu sapato de “cha-cha-cha” no Natal. Na rua acaba violentada por um motorista de taxi (interpretado pelo próprio Divine) e engravida. Mãe solteira, o traveco faz de tudo para sobreviver: garçonete, stripper, prostituta e até assaltante. Tendo que aturar uma filha problemática, sua trajetória desembocará num salão de beleza onde conhecerá seu futuro marido.

5. Um Dia de Fúria (Falling Down, EUA 1993): Durante um trânsito congestionado num dia quente de verão em Los Angeles, um sujeito desempregado (Michael Douglas) decide largar o carro e seguir a pé para o aniversário de sua filha. Ao tentar fazer uma ligação numa cabine telefônica, ele acaba discutindo com um comerciante e explodindo, dando início a uma série de situações cada vez mais fora do controle. Tema contemporâneo que aborda a paranoia urbana e os problemas típícos do cotidiano nas grandes cidades cada vez mais populosas.

4. South Park – Maior, Melhor e Sem Cortes (South Park – Bigger, Longer and Uncut, EUA 1999): O cartoon mais desbocado do planeta estreou nos cinemas com esta pérola da animação repleta de palavrões cabeludos, gestos obcenos e violência excessiva que deixou a Motion Pictures Association of America (MPAA, o órgão regulador da faixa etária de exibição dos filmes nos EUA) de cabelos em pé. A trama, que fala justamente sobre censura, é mero pretexto para muitas baixarias impagáveis com direito até um Diabo gay submisso a seu parceiro Saddam Hussein(!).

3. Borat (Borat, EUA 2006): Borat Sagdiyev (Sacha Baron Cohen) é o segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão, que viaja à América para fazer um documentário sobre seu decadente estilo de vida. Politicamente incorreto ao extremo, trata-se de uma sátira cruel e divertida a sociedade norte-americana e o seu american-way-of-life. Uma “pegadinha” de gigantescas proporções que gerou muitos processos para o estúdio e seus realizadores ao enganar e colocar em situações desconfortáveis muitas pessoas que participaram inocentemente das filmagens.

2. God Bless America (Idem, EUA 2012): Cinquentão desempregado e diagnosticado com câncer decide gastar os últimos momentos de sua vida despachando desta para melhor todo tipo de pessoas egoístas e detestáveis que encontra pela frente sem discriminação de sexo, raça ou idade. Em sua missão de catarse, ganha a companhia de uma adolescente desajustada que partilha o seu desprezo pela civilização e passa a atuar como parceira nos assassinatos. Mistura de “Antes de Partir” com “Assassinos por Natureza” que utiliza de violência gráfica para atacar as instituições americanas.

1. A Vida de Brian (Life of Brian, Reino Unido 1979): Entre todos os filmes “moralmente duvidosos” do grupo Monty Python, este talvez seja o mais escrachado, polêmico e divertido de todos, por tirar sarro com temas bíblicos, religião e o próprio Cristo. Brian (Graham Chapman) é um judeu que nasceu na manjedoura vizinha a Jesus e durante toda sua vida foi confundido com o messias. Na Judéia, ano 33 DC, época cheia de seguidores e perseguidores, ele acaba se envolvendo nas situações mais disparates que só mesmo a trupe de humor britânica seria capaz de idealizar.