A lista dos 10 melhores filmes do ano é sempre a mais difícil, mesmo considerando que 2011 foi um ano de vacas magras. Gêneros e estilos distintos se misturam e na última hora, um “azarão” (ou seria “sortudão”?) decide estrear (leia-se Tudo pelo Poder) para esculhambar a triagem que já estava praticamente pronta. Fazer o que? Incluí-lo na lista, é claro.

10. Rango: Dublado por Johnny Depp, Rango é um camaleão urbano que vive num aquário e sonha ser ator. Até que um acidente o atira repentinamente numa cidadezinha no meio do deserto, um vilarejo no estilo Velho Oeste assolado por uma terrível seca, onde ele terá que usar do seu talento se quiser sobreviver. Impecável do ponto de vista técnico, Rango é uma animação divertida e madura onde a comicidade infantilóide passa longe. Repleta de sérios e multifacetados personagens, traz muitas referências aos grandes clássicos do Western.

9. Melancolia (Melancholia): Enquanto uma jovem (Kirsten Dunst) que não acredita em finais felizes, está celebrando o seu casamento numa suntuosa cerimônia, o gigantesco planeta Melancolia, está prestes a colidir com a Terra e exterminar a raça humana. Disaster movie psicológico dirigido pelo dinamarquês Lars Von Triers, que costuma usar de imagens fortes para levar o espectador a reflexão. Os dez minutos iniciais ao som da ópera Tristão e Isolda (de Wagner), já seriam o bastante para fazer o longa figurar nesta lista.

8. A Pele que Habito (La Piel que Habito): Pedro Almodóvar se arrisca pela primeira vez no gênero suspense, sem deixar de lado os maneirismos característicos de suas obras. Aqui, Antonio Banderas faz um cirurgião plástico bem-sucedido disposto a tudo para inventar a “pele perfeita”, desde o falecimento trágico de sua esposa, que morreu incinerada em um acidente de carro. Contar mais sobre a trama, estragaria este primoroso thriller espanhol carregado de metáforas, espécie de Frankenstein moderno.

7. O Palhaço: Puro Sangue (Selton Mello) e Pangaré (Paulo José), pai e filho, são palhaços e proprietários de um circo mambembe em excursão pelas profundezas do interior do Brasil. Cansado da vida na estrada, Pangaré começa a achar que já não é mais engraçado, fazendo despertar um sonho antigo de ter um lugar para morar e um CPF, comprovando sua identidade. Drama vaudevilliano sensível, poético e de humor inocente, realizado com paixão pelo diretor, roteirista, montador e ator Selton Mello.

6. Tudo pelo Poder (Ides of March): Dirigido por George Clooney (que também atua na fita), o longa discute os bastidores da disputa presidencial nos EUA, revelando situações que já ocorreram no cenário político americano como escândalos sexuais, conchavos políticos, troca de favores, corrupção, e principalmente, a atuação da equipe de comunicação e assessores de marketing dos candidatos a presidência. Thriller político cínico, contundente e permeado por brilhantes atuações.

5. Incêndios (Incendies): No momento em que comparecem a leitura de testamento da mãe, dois irmãos gêmeos ganham missões distintas onde terão que viajar até o Líbano na busca por um pai e um irmão que não sabiam da existência, e entregar uma carta a cada um. À medida que avançam em suas respectivas tarefas, a trama se desdobra até o passado para mostrar o suplício de sua mãe durante a Guerra Civil entre cristãos e palestinos naquele país. Filme franco-canadense contado em capítulos, cheio de lirismo e violência, que aborda temas familiares, religiosos e políticos como poucas vezes se viu no cinema.

4. Planeta dos Macacos – A Origem (Rise of The Planet of The Apes): Jovem cientista (James Franco) a ponto de descobrir uma cura para o Alzheimer, testa em chimpanzés uma droga capaz não só de melhorias nas células comprometidas, mas potencializadora das funções cognitivas. Entre as cobaias, destaca-se Cesar, que nunca foi usado nas experiências tendo herdado geneticamente sua admirável inteligência. Denso, brilhante e um tanto assustador, o longa recria com originalidade toda a mitologia da série e usa da tecnologia atual para dar um início digno de importância a um dos maiores clássicos sci-fi do cinema.

3. Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris): Esta cativante fábula moderna traz Owen Wilson no papel de um aspirante a escritor que é transportado para a França dos anos 1920 e reencontra seu grandes ídolos Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald, além de outros ícones do cenário intelectual da época, como Pablo Picasso, Salvador Dalí, Luís Buñuel e o próprio Cole Porter. Um dos melhores filmes da “fase europeia” do diretor Woody Allen que volta a usar do realismo fantástico para demonstrar o quanto é apaixonado pelo cinema.

2. O Garoto da Bicicleta (Le Gamin Au Vélo): Garoto de 11 anos é abandonado em orfanato e consequentemente torna-se violento e rebelde. Uma cabeleireira solteira apieda-se do moleque e passa a levá-lo para passear nos finais de semana tentando fazer a vida dele melhor, mesmo com todas as intempéries que cruzam o seu caminho. Longa vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2011, dirigido pelos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, que atentos às mazelas do mundo contemporâneo, souberam criar uma obra sensível e ingênua centrada nas relações humanas.

1. A Árvore da Vida (The Tree of Life): Drama existencialista onde o passado e o futuro se misturam para contar a história de um pai opressor (Brad Pitt) e um dos seus filhos (Sean Penn), que já adulto sofre os reflexos desta criação e o trauma da morte de um dos seus irmãos. A partir destes dois pontos temporais, o diretor Terence Mallick cria uma experiência cinematográfica sensorial, profunda, de visual fantástico e repleta de simbolismo, que é impossível passar incólume.