No Limite da Mentira

Inexplicavelmente, No Limite da Mentira teve o seu lançamento adiado diversas vezes, não só no Brasil (onde a prática é comum), como na Europa e nos Estados Unidos (onde o ato levanta suspeitas), mesmo tendo sido bem recebido no Festival de Toronto 2010. Dificil de entender, uma vez que o longa dirigido por John Madden (Shakespeare Apaixonado), mesmo tratando-se de um remake do israelita HaHov (2007), é um thriller eficiente de roteiro bem alicerçado com desempenho envolvente do seu elenco.

Assim como o original, a história segue duas linhas temporais distintas, alternando entre 1966 e 1997 para acompanhar Rachel (Jessica Chastain / Helen Mirren), Stefan (Marton Csokas / Tom Wilkinson) e David (Sam Worthington / Ciarán Hinds), três agentes do Mossad (o serviço secreto israelense) que durante a Guerra Fria são encarregados de capturar um médico nazista que cometeu várias atrocidades nos campos de concentração judeus.

A difícil missão na Alemanha Oriental, que provocou severos traumas psicológicos nos três, volta ao assunto trinta anos depois, com o lançamento de um livro narrando o ocorrido. Mentiras vêm à tona e a oportunidade de corrigir erros do passado surge inesperadamente, colocando-os na berlinda. A partir daí, o filme toma rumos intensos e revelar mais detalhes da trama seria covardia.

O argumento de The Debt, escrito por Jane Goldman, Peter Straughan e Matthew Vaughn (diretor de Kick-Ass e X-Men: Primeira Classe), flerta de leve com o melodrama, tem duração excessiva, muitas reviravoltas e recorre a constantes flashbacks que podem incomodar um pouco. Mas nada que tire o brilho do longa, até porque, de uma forma ou de outra, são fundamentais para a construção de toda a complexidade emocional dos protagonistas.

Se o roteiro funciona, parte deste mérito deve-se ao elenco de luxo, um dos trunfos deste remake. Sobretudo as performances de Jessica Chastain e Helen Mirren, como as versões de Rachel nas décadas de 1960 e 1990 respectivamente, e do fantástico ator dinamarquês Jesper Christensen (“Melancolia”) que faz o execrável médico alemão.

Refilmagens costumam ser desnecessárias, hiperbolizadas e inferiores aos filmes originais. Felizmente, o diretor britânico Madden soube transformar No Limite da Mentira num longa de espionagem tão intenso quanto aquele comandado por Assaf Bernstein em 2007, sem hora nenhuma abusar da ação física e da velocidade estroboscópica que tanto caracteriza os thrillers norte-americanos.

(4/5)
No Limite da Mentira (The Debt)
Estados Unidos, 2010 – 113 min.
Direção: James Madden. | Roteiro: Matthew Vaughn, Jane Goldman e Peter Straughan.
Elenco: Helen Mirren, Jessica Chastain, Sam Worthington, Tom Wilkinson, Ciarán Hinds.