Um Conto Chines

Difícil acreditar que uma história supostamente baseada em fatos traga em sua sequência inicial uma vaca caindo do céu. E isso é apenas o começo de Um Conto Chinês, o maior sucesso argentino do ano – com mais de um milhão de espectadores naquele país –, que se faz crível (quase) do princípio até (quase) o fim.

O protagonista desta comédia dramática é Ricardo Darín (Abutres, O Filho da Noiva), figurinha carimbada nos filmes dos hermanos – assim como o Brasil tem Wagner Moura e Selton Mello, a França tem Gerard Depardieu e por aí vai. Mas Darín tem uma vantagem em relação a seus equivalentes: o bom gosto aliado à sorte nas escolhas dos roteiros. Ele dificilmente erra o tiro e desta vez não foi diferente.

Aqui, Darín interpreta o dono de uma casa de ferragens que leva uma vida pacata, até ver sua rotina (e seus nervos) ser alterada com a chegada de um chinês desconhecido. As situações que se sucedem deixam o comerciante sem escolha: Ele precisa ajudar o oriental a encontrar o tio, que mora há alguns anos em Buenos Aires.

A premissa do choque de culturas e aprendizado através da convivência forçada é surrada e há que se dizer que já foi melhor utilizada em outros filmes, como os recentes Goodbye Solo e O Visitante. A linha narrativa é quase a mesma, só que com menos graça e simpatia. É bem verdade que o longa obtém êxito na transferência da sensação de incomunicabilidade, especialmente pela opção em não legendar as falas em mandarim, mas esta decisão acarretou na desvantagem de se construir um personagem que deveria ser o contraponto do argentino ranzinza num personagem apático, irritante e, por vezes, burro.

Mesmo assim, existem pontos que prendem a atenção. Seja a história despretensiosa e leve, sejam os quesitos técnicos muito bem cuidados, como a fotografia de enquadramentos variados e a trilha harmônica, que só surge nos momentos oportunos; a concentração é mantida até um momento crucial, no qual uma única cena nos arrebata e nos faz entender o porquê da escolha por filmar esta história. Amolece o coração para as sequências restantes, cheias de suavidade e bons sentimentos.

Por mais que não se trate de uma obra-prima, os nossos vizinhos podem se orgulhar de ter um filme bacaninha como o seu grande sucesso de 2011.

(3.5/5)

Um Conto Chinês (Um Cuento Chino)
Argentina / Espanha, 2011 – 93 min.
Direção e Roteiro: Sebastian Borenzstein.
Elenco: Ricardo Darín, Ignacio Huang, Muriel Santa Ana, Iván Romanelli, Vivian Jaber, Javier Pinto.