Agentes do Destino

O adjetivo que mais se encontra nas críticas de Os Agentes do Destino mundo afora é silly (bobo) – apesar de o mesmo ter arrancado lá suas críticas piedosas. Talvez não haja mesmo melhor qualificação do que esta – bobo – para o filme. Primeira experiência de George Nolfi na direção, o filme derrapa nos próprios conceitos, com lições de moral mais que ultrapassadas.

Nolfi era, até então, apenas roteirista, cujo currículo incluía o divertido O Ultimato Bourne, misturado a outras obras medíocres, como Sentinela e Doze Homens e Um Segredo. Ele baseou-se no conto The Adjustment Team, de Phillip K. Dick (autor daquilo que inspirouMinority Report ), para escrever mais um companheiro para o seu hall de malfadados.

Matt Damon é David Norris, um político que perde as eleições, se apaixona(!) por Elise, jovem que conhecera no banheiro masculino – no dia do seu discurso da derrota – e dois minutos depois já estavam se pegando. Ele resolve fazer de tudo para reencontrar este amor da sua vida e ficarem juntos, mas “os agentes do destino” estão sempre, perseguindo-os para não deixar que isto aconteça, num esquema meio 1984 (o livro de George Orwell), com pitadas de eliminação cerebral amorosa de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças e portas mágicas que dão para lugares completamente inusitados (Matrix, alguém?).

Retirando a palavra “criatividade” do seu vocabulário, Nolfi lança mão de todo e qualquer elemento batido: o elemento “amor predestinado”, o elemento “Coelho Branco”, o elemento “ajudante misterioso que não se sabe porque o faz, mas ‘tem suas razões para tal’” e o elemento “garota que representa o perigo, a tentação que pode ser a perdição do heroi”. Será que não já vimos este filme antes? Acho que os “agentes do destino” esqueceram de apagar da nossa minha memória esta informação.

Damon e Blunt até que se esforçam e batem o ponto com decência, mas funcionam separadamente, sem uma química que os faça um par memorável. Puderas: com a quantidade de diálogos furados que são obrigados a reproduzir e embalados por uma trilha sonora digna dos clássicos softporno Emmanuelle, fica difícil para eles convencerem alguém.

O conto de Phillip K. Dick poderia ser um bom material para uma obra que causasse reflexão, mas não há inteligência que não se ofenda com tantas sequências anunciadas e nem um pingo de sutileza. Acaba morrendo pela própria língua. Vazio, o filme poderia escapar da tragédia completa se investisse na ação, recebendo a classificação de diversão escapista. Mas não teve jeito. A ação mandou lembranças e cedeu lugar ao bocejo.

(1/5)
Os Agentes do Destino (The Adjustment Bureau)
Estados Unidos, 2011 – 106 min.
Direção e Roteiro: George Nolfi.
Elenco: Matt Damon, Emily Blunt, Terence Stamp, Michael Kelly, Anthony Mackie.