A minha listinha é um pouco diferente das que circulam por aí. Não estou me referindo aos filmes, mas ao critério utilizado. Só foram selecionados longas produzidos em 2010. Nesta triagem radical, ficaram de fora pérolas como Mary & Max, Os Homens Que Não Amavam as Mulheres e O Segredos dos Seus Olhos, todos de 2009 (embora lançados em 2010). A tarefa não foi nada fácil. Isto restringiu o número de opções em um ano particularmente decadente quando o assunto foi criatividade e originalidade.

10. Chico Xavier: A cinebiografia do mais importante médium do Brasil merecidamente tornou-se uma das maiores bilheterias nacionais de 2010.  Apesar do roteiro tomar o maior cuidado para não ofender os espectadores de outras religiões, ainda assim houve quem reclamasse da temática espiritual. É preciso ser muito radical para não se comover com a trajetória deste homem que renunciou muito de sua vida para ajudar os outros. O filme foca-se na pureza de coração do medium e constrói uma bonita história sobre a fé, independente de qual doutrina é seguida.

9. Cyrus: Mesmo não se definindo como drama ou comédia de humor negro, esta produção despretensiosa dos irmãos Ridley e Tony Scott e dirigida pelos também irmãos Jay e Mark Duplass é bastante competente. Jonah Hill faz o personagem título, um garoto mimado que, para não “perder” a mãe (Marisa Tomei) para o namorado dela (John C. Reilly), usa de todos os artifícios no intuito de sabotar o relacionamento dos dois. O grande trunfo do filme é seu roteiro que, fortalecido pelas atuações do trio central, humaniza os personagens e não apela em nenhum momento para o melodrama.

8. Ilha do Medo (The Shutter Island): Martin Scorsese dá um tempo em suas “produções mafiosas” para, em sua quarta parceria com o ator Leonardo diCaprio, entregar um dos melhores filmes do ano. O longa, que se passa em 1954, é uma adaptação do livro Paciente 67 de Dennis Lehane, onde dois agentes federais vão investigar o desaparecimento de uma mulher internada num manicômio judicial isolado em uma ilha. Mistérios, paranóias e intrigas (não necessariamente nesta ordem) recheiam a trama que soube misturar nas doses certas o thriller policial com o terror psicológico.

7. Escritor Fantasma (The Ghost Writer): Ewan McGregor é o personagem título, contratado para escrever as memórias de um ex-primeiro ministro britânico (Pierce Brosnan) que coloca a vida em risco ao desvendar alguns segredos sobre o passado do sujeito. Roman Polanski comanda com maturidade este bem amarrado suspense político, que não vai figurar entre as obras-primas do cineasta, mas é muito acima da média do que se viu no cinema este ano.

6. Kick-Ass – Quebrando Tudo (Kick-Ass): Politicamente incorreto até a tampa, repleto de ação e pancadaria exageradas, este longa baseado numa HQ homônima é o programa perfeito para fãs de quadrinhos e games. Kick-Ass é a alcunha de um nerd sem grandes aptidões físicas que, cansando de sua vida enfadonha, decide vestir uma fantasia e sair combatendo o crime. Se dependesse dos grandes estúdios, o longa nunca sairia do papel. Ave Matthew Vaughn, que acreditou no projeto e decidiu bancá-lo do próprio bolso. Um filme pra ver, rever e, talvez, entender o que se passa na cabeça da juventude atual.

5. Toy Story 3: O cuidado da Pixar em desenvolver cada situação, em mostrar cada detalhe e em dar um desfecho apropriado para uma história iniciada há 15 anos é algo indescritível. Com Toy Story 3, o estúdio comprova de vez que não sabe fazer filmes ruins, mesmo que sejam sequências. A animação é uma montanha-russa que traz diversão, nostalgia e muita emoção, tudo devidamente orquestrado. Desta vez, o garoto Andy está partindo para a faculdade, e os brinquedos acabam doados para uma creche infantil onde irão fazer novos amigos e inimigos.

4. Abutres (Carancho): É triste admitir, mas o cinema argentino a cada dia que passa, dá um olé no nosso. Aqui, Ricardo Darín (O Segredo dos Seus Olhos) é um advogado inescrupuloso cuja licença foi cassada e, agora, trabalha em uma firma decadente se aproveitando de vítimas de acidentes para usufruir de indenizações. Do outro lado da trama, está uma jovem médica (Martina Gusman, a mulher do diretor Pablo Trapero) responsável por cuidar desses desafortunados. Abutres é um filme tão perturbador que levou o Congresso argentino a discutir mudanças na legislação de seguros para acidentes automotivos. Não se espante se nossos hermanos levarem novamente o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

3. A Rede Social (The Social Network): Esta pulsante versão de David Fincher para o atribulado processo de criação do Facebook, maior rede social do planeta com mais de 500 milhões de usuários é, na verdade, um longa menos sobre internet e mais sobre relações humanas e suas consequências. Ao abordar questões como o bullying virtual, direitos autorais em tempos de web e a falsa sensação de poder que a internet pode criar, o filme soube traçar um crítico retrato da desregrada juventude 2.0.

2. Tropa de Elite 2: Maior bilheteria da história do cinema nacional, esta sequência do sucesso de 2007 novamente estrelada por Wagner Moura e dirigida por José Padilha é um convite a rediscutir o Brasil como sociedade. A história se passa nos dias atuais, onde Nascimento, agora coronel, precisa lidar com as milícias que tomam conta do tráfico nos morros cariocas. Ousado e corajoso, só lamento uma coisa em Tropa 2: Não ter conseguido tempo para escrever uma crítica à sua altura, na época do lançamento.

1. A Origem (Inception): Christopher Nolan, mestre moderno da psique, brinca com a ilusão da mente humana nesta obra-prima de ficção científica sobre um caçador de sonhos que se dedica à espionagem industrial. Não bastasse a genialidade do roteiro, temos um elenco afiadíssimo, uma poderosa trilha sonora e impactantes fotografia, direção de arte e efeitos visuais. O paralelismo genial das ações, com várias camadas de sonhos se desenrolando em cenários e tempos diferentes, são de uma engenhosidade tremenda, poucas vezes vista no cinema.