Enterrado Vivo Co-produção espanhola e francesa, Enterrado Vivo tinha quase tudo se tornar o thriller do ano: uma ideia interessante, atmosfera claustrofóbica, um diretor promissor (o espanhol Rodrigo Cortés) e um astro em ascenção (Ryan Reynolds, que deve ser catapultado (ou não) para o primeiro escalão quando “Lanterna Verde” for lançado em 2011). Prejudicado por um roteiro frustrante, repleto de clichês e tramas mal exploradas, o longa não passa de mediano.

O filme mostra, quase em tempo real, a via crucis de Paul Conroy (Reynolds), um motorista de caminhão que foi capturado e sepultado vivo em um deserto no Iraque. Dentro do velho caixão de madeira, ele tem a sua disposição apenas um celular – que não é seu – e um isqueiro. Desesperado, Paul começa a contactar as autoridades para que possam lhe ajudar a sair dali ao mesmo tempo que os sequestradores avisam que se um resgate de 5 milhões  de dólares não for pago em 90 minutos, ele morrerá.

Paul não foi aluno do Pai Mei (“Kill Bill”) e a situação se arrasta com o sequestro ganhando repercussão mundial, depois que um video vai parar no Youtube. A poderosa trilha sonora, um dos pontos positivos do longa, se esforça para dar intensidade a trama, mas o script de Chris Sparling não condiz com os acordes pulsantes. Diálogos que deveriam ser dramáticos tornam-se cômicos, comprometendo ainda mais a narrativa. Junte a isso, a performance pouco convincente de Ryan Reynolds. O ator não soube impor vulnerabilidade e desespero suficientes ao seu personagem, sem parecer forçado.

Até as críticas aos EUA são manjadas. É aquele velho blá, blá, blá de que o governo norte-americano não está nem um pouco preocupado com as tropas que estão no Iraque, e sua cartilha política de combate ao terrorismo transforma todos em peões dispensáveis. Nada que não já tenha sido melhor explorado em outros filmes.

Espectadores mais sensíveis podem se incomodar com a atmosfera claustrofóbica, pois não há mudança de cenário. Reynolds é o único ator em cena e o filme todo se passa debaixo da terra. No elenco estão Stephen Tobolowsky (“Amnésia”) e Samantha Mathis (“Psicopata Americano”), mas eles só emprestam suas vozes. A iluminação, quase nula, é proveniente de um isqueiro, do celular ou daqueles bastonetes luminosos usados em boates.

O marketing de Enterrado Vivo, teve a audácia de comparar Cortés a Alfred Hitchcock. O longa apresenta elementos mal conduzidos característicos das obras do genial cineasta, mas daí fazer um comparativo entre o espanhol e o mestre é um absudo. Hitchcock, este sim, com o perdão do trocadilho, deve estar se revirando no caixão.

(1/5)
Enterrado Vivo (Buried)
Espanha / França, 2010 – 95 min.
Direção: Rodrigo Cortés. | Roteiro: Chris Sparling.
Elenco: Ryan Reynolds, Stephen Tobolowsky, Samantha Mathis, Robert Paterson, Alan Davenport.