Um Homem Misterioso

Se você empolgou com o nome de George Clooney nos créditos de Um Homem Misterioso, saiba que este não é o típico thriller de ação norte-americano. O roteiro de Rowan Joffe adaptado do best-seller A Very Private Gentleman escrito por Martin Booth em 1990, se desenrola beeeeem devagar, dispensando a tradicional correria hollywoodiana: Não há no filme uma única seqüência de luta, explosão ou perseguição automobilística.

O longa começa dando entender que Jack, o personagem de Clooney, é um assassino de aluguel em fuga pela Europa. Aos poucos, a medida que a trama se desenrola, descobrimos que ele é um “supplier” (fornecedor de armas), o homem encarrecado de preparar e entregar armamentos para os “clientes”, de acordo com as necessidades do “trabalho” a ser realizado.

A tarefa fez com que ele ganhasse vários inimigos, o que o força a viver sempre sozinho e escondido. Após sofrer um atentado na Suécia, Jack vai se esconder no pequeno vilarejo de Castelvecchio, na região montanhosa de Abruzzo, na Itália. Ali, ganha a alcunha de “O Americano” (o título original), um sujeito monossilábico que evita a todo custo se misturar com a população local. Ele bem que tenta, mas não consegue resistir ao charme de Clara (Violante Placido), uma voluptuosa garota de programa que desperta nele a vontade de mudar de vida, mesmo sabendo como é díficil livrar-se desta profissão.

A história do anti-herói solitário que chega a um cidade pacata em busca de paz e acaba perseguido por seu passado negro era temática recorrente nos westerns spaghetti da década de 1960. E o diretor holândes Anton Corbijn (“Control”, cinebiografia de Ian Curtis, vocalista da banda Joy Division) faz questão de demonstrar que bebeu nesta fonte, enchendo The American com muitas referências a Sergio Leone. O caladão e moralmente duvidoso Jack é uma versão atualizada de O Homem Sem Nome – o pistoleiro impassível interpretado por Clint Eastwood nos clássicos do citado cineasta italiano.

Em momento algum, Corbijn, que começou a carreira como fotógrafo, esconde sua paixão pela imagem. Ele prefere minimizar os diálogos e investir na linguagem corporal (posturas, gestos, olhares) dos personagens para contar sua história. Quem diria que um diretor tão habituado a linguagem veloz dos clips (Corbijn já dirigiu videos para o Metallica, U2 e Depeche Mode) seria capaz de conduzir com tamanha sutileza um história que, apesar da temática violenta, fala de amor e redenção.

(4/5)
Um Homem Misterioso (The American)
Estados Unidos, 2010 – 105 min.
Direção: Anton Corbijn. Roteiro: Rowan Joffe.
Elenco: George Clooney, Violante Placido, Johan Leysen, Paolo Bonacelli, Irina Björklund.