Após o sucesso inesperado de A Bruxa de Blair, em 1999, o mundo (e sobretudo o gênero horror) redescobriu uma linguagem cinematográfica pouco explorada até então. O que hoje é chamado carinhosamente pelos americanos de “mockumentary” (ou falso-documentário), chamou a atenção ao público pela sensação de veracidade que os filmes apresentados proporcionam. A idéia é sempre contar uma história fictícia, seja de um personagem ou acontecimento, de forma a encaixá-la em fatos reais ou com uma roupagem que transmita ao espectador que o exibido na tela realmente aconteceu.

Abaixo uma compilação dos meus favoritos:

10.  Por Trás da Mascara – O Surgimento de Leslie Vernon (Behind The Mask: Rise of Leslie Vernon, EUA 2006): Você já conhece os lendários Jason Voorhees, Michael Myers e Freddy Krueger. Agora, conhecerá Leslie Vernon, o próximo grande assassino psicótico. Ele convida uma equipe de produção de um documentário para acompanhá-lo enquanto relata suas memórias com seu mestre na arte do assassinato (Scott Wilson, de A Sangue Frio), foge do seu psiquiatra e inimigo (Robert Englund, de A Hora do Pesadelo), desconstrói o simbolismo de Freud e planeja com detalhes a sua próxima matança. Divertido e inteligente, o longa foi exageradamente considerado uma obra de arte pela revista Film Threat.

9. Confissões de Um Viciado em Pornografia (Confessions Of A Porn Addict, Canada 2008): Mark é um viciado em pornografia que depois de perder amigos, emprego, esposa e ser preso se masturbando dentro de uma locadora, convoca um colega cineasta para filmar seu dia-a-dia e convencer tanto o juiz quanto sua ex-esposa Felice que está fazendo o melhor para livrar-se do vício onanista. Hilário do princípio ao fim, com participações especiais de figurinhas carimbadas do porn biz.

8. Bob Roberts (EUA 1993): O politizado Tim Robbins destilou muito sarcasmo e ironia em sua estreia na direção, para contar a história de Robert Roberts Jr., cantor e compositor de música folk que no início da década de 1990 teria despontado como candidato ao Senado norte-americano pelo Estado da Pensilvânia. Carismático, talentoso, jovem e rico, Roberts personifica a direita neoliberal que alcançou o poder em todo o mundo com uma política agressiva, individualista e radicalmente contrária ao assistencialismo social pregado pela esquerda. O humor ácido do filme não poupa ninguém, investindo contra os marketeiros políticos, a mídia parcial e deslumbrada e os partidos políticos extremistas.

7. Atividade Paranormal (Paranormal Activity, EUA 2009): A jovem Katie acredita que é perseguida por uma entidade desde criança e seu marido não convencido, decide colocar uma camêra no quarto para capturar evidências paranormais. Esta brincadeira que custou a bagatela de 11 mil dólares e arrecadou mais de U$ 100 milhões nas bilheterias americanas aterrorizou o público de tal forma que até hoje ainda tem gente acreditando que tudo foi real, apesar do DVD/Blu-ray lançado conter um final alternativo.

6. A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, EUA 1999): Três estudantes se embrenham numa floresta para rodar um documentário sobre a lenda de uma bruxa e nunca mais são vistos. Um ano depois, suas fitas e gravações são encontrados e se transformam no filme A Bruxa de Blair, que acompanha a angustiante jornada de cinco dias através da floresta e os eventos aterrorizantes que resultaram no desaparecimento. Primeiro grande fenômeno da história do cinema independente norte-americano, uma campanha de marketing prévia lançou uma série de boatos na internet, ajudando a reforçar o mito.

5. Zelig (EUA 1983): Leonard Zelig (Woody Allen) é um sujeito que sofre de um distúrbio que o permite, ao se aproximar das pessoas, mesmo das mais distantes da sua realidade, sejam judeus ortodoxos ou negros americanos, se transformar e incorporar a sua aparência exterior e o seu comportamento. A forma de falso documentário deixa Allen exercitar seu conhecimento sobre as animosidades mentais do ser humano ante um aspecto (quase) científico, convidando o espectador a pensar e refletir sobre a própria condição de viver em sociedade. Sem dúvida, um dos melhores filmes de sua carreira.

4. Distrito 9 (District 9, Africa do Sul, 2009): Em 1982, uma enorme nave alienígena entra na atmosfera terrestre e “estaciona” sobre a cidade Joanesburgo, na África do Sul. Quando os militares decidem invadir  o OVNI, descobrem uma população inteira de alienígenas famintos e subnutridos. Refugiados interplanetários, acabam acomodados numa gigantesca área construída na periferia da cidade, o tal Distrito 9. Passados 20 anos, a situação tornou-se incontrolável e o governo local precisa tomar uma atitude. Produção de Peter Jackson, uma das melhores ficções científicas deste século.

3. Aconteceu Perto de Sua Casa (C’est Arrivé Près Chez Vous/Man Bites Dog, Bélgica 1992): Uma equipe de filmagem acompanha o dia-a-dia de um sofisticado serial killer, que entre um cruel assassinato e outro, expõe suas interessantes opiniões sobre arquitetura e estética. Aos poucos, começa a envolver o grupo em suas atividades criminosas, e eles começam a se perguntar se o que estão fazendo é mesmo uma boa ideia. Filme inteligente e violentíssimo, temperado com um pesado humor negro.

2. Isto é Spinal Tap (This Is Spinal Tap, EUA 1984): Uma tremenda alfinetada em todo o cenário de heavy metal, o longa mostra com muito humor a primeira excursão americana da fictícia banda de hard rock inglesa Spinal Tap. Durante a turnê tudo dá errado: shows são cancelados, os instrumentos não funcionam, a banda se perde nos bastidores do estádio onde aconteceria uma de suas maiores apresentações, etc. O diretor Rob Reiner retrata as cenas da forma mais séria possível, tirando um grande sarro de todos os aspectos possíveis desse mundo lotado de excessos.

1. Borat (Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan, EUA 2006): Borat Sagdiyev (Sacha Baron Cohen) é o segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão, que viaja à América para fazer um documentário sobre seu decadente estilo de vida. Politicamente incorreto ao extremo, trata-se de uma sátira cruel e divertida a sociedade norte-americana e o seu american-way-of-life. Uma “pegadinha” de gigantescas proporções que enganou e colocou em situações desconfortáveis muitas pessoas que participaram inocentemente das filmagens.