Um Homem Sério

Desde O Grande Lebowski (1998) que eu não via tantos diálogos insólitos num único longa. Bem, este é um dos estilos peculiares dos irmãos Joel e Ethan Coen, produtores, roteiristas e diretores de Um Homem Sério (e também de Lebowski), que concorre ao Oscar deste ano nas categorias de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. Obcecados por espirais trágicos e efeitos dominós – outra característica da dupla -, os Coen traçam aqui uma divertida sátira ao judaísmo, numa película com pano para diversas interpretações e difícil classificação de gênero.

A trama se desenvolve nos anos 60 pré-Woodstock onde Larry Gopnik (Michael Stuhlbarg), pai de família, judeu e professor universitário, tenta entender alguns infortúnios que começam a lhe acontecer em sequência. Sua esposa quer o divórcio para se casar com o viúvo Sy Ableman (Fred Melamed, que lembra muito Francis Coppola). Um aluno coreano quer suborná-lo a todo custo. O vizinho quer tomar parte do seu terreno para construir uma casa de barcos. Arthur (Richard Kind), seu irmão desempregado e viciado em jogo, está vivendo as suas custas.

A vida de Larry está desabando frente a seus olhos, sem que consiga compreender o porquê. Disposto a encontrar uma resposta divina, ele busca ajuda de líderes religiosos para tentar resolver essas dúvidas filosófico-existenciais. Vã tarefa em sua jornada. Todos os rabinos contam histórias mirabolantes que não servem de propósito para ele. Seu mundo sério cai, Larry, se vê sem casa, família e ainda recebe cartas anônimas o ameaçando no emprego.

O roteiro dos irmãos Coen está sempre colocando o personagem numa série de conflitos éticos, testando sua integridade moral. Cada cena serve de pilar para sustentar a trama e não há palavra ou gesto que seja dispensável (embora algumas digressões façam parecer justamente o contrário).

As comédias de humor-negro da dupla são assim, sempre explorando personagens complexos, quase cartunescos, sem nenhum rasgo de humanidade que possa redimí-los. Toda a filmografia deles é baseada neste quesito ou na ambientação da trama no centro-oeste americano (região onde cresceram). Judeus eles próprios, aqui, muitas das situações são apresentadas com uma riqueza de detalhes que certamente devem ter raízes autobiográficas.

Provocativo, sarcástico e irônico, Um Homem Sério é um filme que nos coloca no nosso devido lugar. Mostra que não adianta dominarmos a ciência, o conhecimento ou acharmos que estamos mais conectados ou informados; no final, ainda sabemos pouco – ou nada – se comparados ao Deus onipresente. “A vida é cheia de mistério”, afirma um dos personagens que cruzam com Larry. Ás vezes, a melhor forma de lidar com os problemas é dando risada da própria desgraça.

(4/5)
Um Homem Sério (A Serious Man)
Estados Unidos, 2009 – 106 min.
Direção e Roteiro: Joel e Ethan Coen.
Elenco: Michael Stuhlbarg, Richard Kind, Fred Melamed, Sari Lennick, Aaron Wolf.