Arraste-me para o Inferno Eis que o bom filho a casa assombrada torna. Quando “Evil Dead” foi lançado em 1981, Sam Raimi cravou seu nome na história do cinema de horror. Filme de baixíssimo orçamento, mas dotado de uma criatividade impar, “Evil Dead” revolucionou o gênero com efeitos visuais impressionantes para a época, trilha sonora macabra e câmera subjetiva vertiginosa. 28 anos separam o “clássico” trash deste Arraste-Me Para o Inferno. Nesta lacuna, depois de dirigir as continuações “Evil Dead 2” e “Army of The Dead”, Raimi enveredou por outros gêneros até a trilogia do aracnídeo cair em seu colo. Três Homens-Aranhas depois e, felizmente, a verve demoníaca do diretor ainda flui exagerada e sem grandes problemas.

O roteiro, escrito por Sam Raimi e seu irmão Ivan, conta a história de Christine Brown (Alison Lohman), uma jovem funcionária de banco que almeja a vaga de assistente da gerência, concorrida entre ela e um colega puxa-saco-de-patrão, capaz de fazer qualquer coisa pelo cargo. Christine é responsável pela renovação das hipotecas dos clientes e é assim que conhece Sylvia Ganush (Lorna Raver), uma senhora desesperada para renovar o contrato de sua casa com medo de perdê-la. Para impressionar seu chefe, a garota demonstra ser capaz de “tomar decisões difíceis” e diz NÃO para o empréstimo da véia. A bruxa lança uma maldição sobre ela e agora um demônio chamado “La Lamia” a persegue para levá-la direto para o inferno.

Raimi adora surpreender o expectador e aqui, humor negro é a palavra de ordem. Algumas cenas do filme são capazes de gelar a espinha e outras de desopilar o fígado por completo. O diretor abusa da nojeira com fluídos corporais (leia-se baba) e do misticismo religioso para tornar a história grotesca e cômica ao mesmo tempo. Às vezes, ficamos aturdidos sem saber se estamos assistindo a um horror “sério” ou algo na linha “Braindead”, trash pastelão de Peter Jackson em inicio de carreira.

Onde sobra perícia técnica, falta desempenho por parte da protagonista. A loirinha Alison é carismática mas parece ter frequentado o mesmo curso teatral de Schwarzenegger. Quando vemos sua personagem Christine pela primeira vez, ela nos passa a sensação de ser uma mulher meiga e desprotegida. Na metade até o final, ela tenta parecer uma pessoa mais confiante, mais forte. Sem sucesso. Lohman não possui uma expressão definida que faça o público sensibilizar-se com sua situação e, isto fica bem claro a medida que a fita caminha para o desfecho. Felizmente salva-se Lorna Raver, a bruxa Ganush, responsável pelos melhores momentos do longa.

Arraste-me Para o Inferno é um ótimo programa, mas não espere por nenhuma inovação. Pelo contrário, a receita caseira de gore e humor é a mesma de 30 anos atrás. O mestre sabe como poucos misturar non-sense com os clichês típicos do horror, sem destemperar a fórmula. O retorno de Sam Raimi ao gênero que o instalou na indústria não poderia ter sido melhor.

(3.5/5)
Arraste-Me Para o Inferno (Drag Me To Hell)
Estados Unidos, 2009 – 99 min.
Direção: Sam Raimi.
Elenco: Alison Lohman, Justin Long, Lorna Verner, David Paymer, Reggie Lee.