ze-do-caixaoAcostumado a lançar pragas terríveis contra seus desafetos, Zé do Caixão se viu numa situação delicada na semana passada. Ele visitou a região da rua 25 de Março em busca de DVDs piratas do seu mais recente filme, Encarnação do Demônio.

O horror foi lançado para locação no dia 21 de janeiro, e Zé do Caixão foi informado por seus asseclas que no dia 22 já havia piratas circulando por ali. Era verdade, e José Mojica estava especialmente revoltado: “Demoro 42 anos para fazer esse filme, a última parte do trilogia do Zé do Caixão, e esses sujeitos pirateiam em 24 horas! Cadê a minha parte?”.

A Folha de São Paulo acompanhou Mojica na caçada aos piratas, mas o cineasta, a despeito de seu personagem macabro, tem coração mole. Quando os camelôs o reconheceram (“Olha o Zé do Caixão!”) e passaram a gritar seu nome (“Mojica! Ê, Mojica!”), o diretor abriu um sorriso e posou para fotos, largando o cigarro por alguns segundos.

Mais: a pedido do camelô Douglas, autografou seus próprios piratas, que, assim, adquiriram status de colecionador e passaram a valer um pouco mais que os R$ 5 comumente cobrados (três por R$ 10).

Mojica Marins logo encontrou uma justificativa para essa atitude tão magnânima: “Esses garotos estão na batalha, como eu, e é muito difícil sobreviver nesse país. Fiquei com pena deles. O problema não são eles, mas sim a quadrilha que produz os DVDs”.

O camelô Johnny, que disse estar vendendo 20 DVDs de Encarnação do Demônio por dia, afirma que não é ele quem faz os discos. “Toda tarde, o menino passa aqui e eu peço 20 do Zé do Caixão, 20 do Benjamin Button etc. Toda manhã, o menino traz”, revela.

O problema, como se vê, é “o menino”. Por isso, nesse momento Zé do Caixão reassume a mente delirante de José Mojica Marins e roga a praga pela qual todos esperavam: “Por brincarem assim com o demônio encarnado, que um corrosivo coma o cérebro dos fabricantes de DVDs piratas e escorra até o chão, e eles andem sem cabeça para o resto da eternidade!”.

Fonte: Folha de São Paulo